Cabo Verde bateu um novo recorde ao receber cerca de 1,2 milhões de hóspedes em 2024, segundo dados preliminares divulgados hoje à Lusa pelo presidente do Instituto de Turismo do arquipélago.
“A estimativa aponta para 1,2 milhões”, referiu Jair Fernandes, em entrevista à Lusa, indicando que os números deverão continuar a crescer, refletindo a preferência pelo destino Cabo Verde, sobretudo entre turistas europeus.
O presidente do Instituto de Turismo acredita, com “segurança”, que o recorde voltará a ser batido em 2025, graças à introdução de Cabo Verde nas rotas da companhia aérea de baixo custo Easyjet, que atualmente só opera na ilha do Sal, mas poderá vir a ter ligações para outras ilhas.
“Para os próximos meses, temos a possibilidade de ter a Easyjet nas ilhas de Santiago e São Vicente, demonstrando que esse pode ser o caminho imediato para a desconcentração do turismo, levando-o a todas as nove ilhas, em articulação com novas linhas domésticas.”
As companhias aéreas internacionais mais baratas vão transportar “um tipo de turismo completamente diferente” da atual oferta de sol e praia em ‘resorts’, responsável pela maioria da receita turística do arquipélago, concentrada nas ilhas do Sal e Boa Vista.
Com linhas “low cost”, Cabo Verde espera um turismo “com impacto em todas as ilhas e na economia local, com visitantes à procura de experiências no destino”, perspetiva Jair Fernandes.
Após a chegada aos aeroportos internacionais, os turistas estrangeiros terão ligações internas para se deslocarem, graças à nova companhia estatal Linhas Aéreas de Cabo Verde, já criada em termos formais, e que Jair Fernandes espera ver implementada.
“Um turista que esteja no Sal e queira ir à ilha de São Nicolau ou que esteja na Boa Vista e queira ir à ilha do Fogo, tem garantida essa possibilidade através da introdução das Linhas Aéreas de Cabo Verde, podendo ir num dia e voltar no outro”, exemplificou.
“Isto permitirá desconcentrar a atividade turística do Sal e da Boa Vista para as demais ilhas”, referiu, em resposta a uma análise divulgada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em fevereiro.
De acordo com o documento, só as ilhas do Sal e Boa Vista, que concentram as cadeias hoteleiras internacionais, superaram o fluxo turístico de 2019, enquanto as restantes continuam abaixo dos números de visitantes registados antes da irrupção da pandemia de covid-19, segundo os valores apurados pelo FMI.
Jair Fernandes disse à Lusa que “o ‘marketing’ está a ser feito” para mudar o paradigma e que o turismo de natureza “tem tido um crescimento exponencial e notório em Santo Antão, Fogo e Santiago”, a par do segmento cultural, com Santiago (Cidade Velha e Tarrafal) e São Vicente, “dentro de um contexto folclórico que tem como produto estrela o Carnaval”.
Outra novidade é o desenvolvimento da modalidade de alojamento complementar, que permite aos turistas escolher o seu alojamento com antecedência, independentemente da ilha que visitem.
Cabo Verde mostra a sua diversidade na feira de turismo de Berlim, que decorre esta semana, depois de ter marcado presença na Fitur, em Espanha, em janeiro, e antes da BTL, em Lisboa, neste mês de março.
“As outras ilhas têm tido o seu crescimento, mas, para se inferir com toda a exatidão, estamos a trabalhar em dados estatísticos e análise”, que espera venham a mostrar resultados da estratégia de diversificação.
O turismo e atividades relacionadas são o motor do crescimento da economia cabo-verdiana, com receitas projetadas para 2024 acima de 500 milhões de euros, representando mais de 70% das exportações, segundo o mesmo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No final de Janeiro, na cimeira Portugal-Cabo Verde, que decorreu em Lisboa, o primeiro-ministro do arquipélago, Ulisses Correia e Silva, afirmou que o setor do turismo “está longe de estar saturado”, acrescentando que é necessário diversificá-lo para além da tradicional oferta de “sol e praia” e apostar nas diferentes ilhas.