Estudos dizem que viajar pode ser o segredo para uma vida mais longa

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Será que o facto de viajar faz com que tenha uma vida mais longa? Há quem diga que sim. Quem tenta prova-lo é June Scott, uma apaixonada por viagens com 86 anos. Quando lhe perguntam onde vive, a resposta, em tom de brincadeira, é simples – «esta manhã ou em viagem?».

June já visitou os sete continentes e 87 países, e promete não parar. A sua casa fica em Illinois, nos Estados Unidos, e é para lá que vai quando regressa de viagem. As suas últimas paragens foram a Palestina e Israel, depois de uma passagem por Cuba. Em dezembro, teve uma experiência a que chamou única: dormiu numa tenda no maior deserto de areia do mundo – o Rub‘ alKhali, que abrange áreas da Arábia Saudita, de Omã, dos Emirados Árabes Unidos e do Iémen -, muitas vezes considerado um dos lugares menos explorados do planeta. E no verão passado, sobrevoou a Costa dos Esqueletos, na Namíbia, num pequeníssimo avião.

Mas June não é só uma avó com um passaporte recheado – é uma das participantes de um estudo sobre «Super Aging», da Universidade Northwestern, em Illinois. «Super Aging» é um termo que se aplica ao «bom envelhecimento», isto é, à maneira de envelhecer sem perder capacidades mentais ou de memória. Os «SuperAgers» (termo aplicado pelo neurologista Marsel Mesulam) são idosos cuja memória e atenção não estão simplesmente acima da média para a idade, mas equivalem a pessoas quatro ou cinco décadas mais novas.

À medida que a maioria dos seres humanos envelhece, os seus cérebros vão encolhendo, o que leva a uma perda das capacidades intelectuais e cognitivas. «Pensa-se que a atrofia contribui, em parte, para os momentos de esquecimento que os idosos experienciam durante o envelhecimento», afirma Emily Rogalski, doutorada em Filosofia e diretora do estudo.

Pelo contrário, os SuperAgers como June perdem menos volume de cérebro – um estudo descobriu que, num período de 18 meses, as pessoas mais velhas normais perderam duas vezes mais volume no córtex (a área do cérebro ligada ao pensamento crítico) do que os SuperAgers. Por outras palavras, o cérebro de June é considerado mais jovem do que ela, com certas partes semelhantes aos cérebros de pessoas de cinquenta anos. Lembre-se que June tem 86.

Mas afinal o que têm as viagens a ver com o caso?

June Scott dir-lhe-á que as viagens a mantêm viva e efetivamente mais nova: «Sou uma pessoa curiosa. Quero aprender ao longo da minha vida, e as viagens tornam a minha vida muito mais interessante», afirmou em entrevista à Condé Nast Traveler.

Durante o verão, June e a família não alugavam, como muitos outros, uma casa na praia para as crianças poderem brincar. Ela, o marido e os filhos percorriam os Parques Nacionais norte-americanos. Quando eram novos, June ficou em casa a tomar conta deles. Só aos 40 se tornou professora. Mas nunca deixou de viajar. Durante a sua já longa vida, June Scott conviveu com gorilas em Ruanda, e seguiu a sua árvore genealógica até à antiga Checoslováquia.

Claro que nem todos os SuperAgers são apaixonados por viagens. No entanto, o estudo sugere que «os SuperAgers tendem a ser socialmente ativos, mesmo quando fazem voluntariado com os sem-abrigo, participam em grupos da igreja, jogam cartas, leem histórias às crianças pequenas. E alguns, como June Scott, são viajantes ávidos», conclui Emily Rogalski. Aliás, as conversas fazem com que os cérebros funcionem. E quando as pessoas viajam, normalmente dialogam com o companheiro de viagem, marido e grupo de amigos, mas também com desconhecidos, salienta Melissa Gartenberg Livney, doutorada em psicologia e psicóloga da Escola de Medicina Perelman, da Universidade da Pensilvânia. «À medida que as pessoas envelhecem e que as capacidades cognitivas dos amigos não estão a par das delas, viajar em grupo pode ajudar a conviver com outras pessoas com a mesma «idade mental».

É o caso de June Scott, que fez amigos um pouco por todo o mundo. «Podemos falar uma língua diferente, ter tradições diferentes, usar roupas diferentes, ter rostos diferentes, mas somos todos humanos», conta a própria. «Queremos as mesmas coisas». Ainda hoje, June troca cartas com uma senhora que conheceu na Arábia Saudita, e alguns de seus melhores amigos são pessoas de 50 anos. «No ano passado, fiz uma lista de quantos amigos perdi. Perdi 18 amigos. Isso faz com que perceba que não somos imortais».

Segundo esta apaixonada por viagens, as suas aventuras «abrem-lhe a visão e a forma de pensar». Os pesquisadores acabam por concordar, já que os cérebros se enriquecem com novidades e desafios. «Anteriormente pensava-se que nascíamos com uma certa quantidade de neurónios e que esse número ia diminuindo», diz Rogalski. «Agora, estamos a chegar à conclusão de que talvez não seja bem assim».

June assume ser uma felizarda por ter os meios e a energia suficientes para alimentar a sua vontade de viajar e a constante procura de novas aventuras. «Quando não tenho bilhetes de viagem na gaveta, sinto que estou a caminhar para a morte». Apesar de todas as adversidades e dificuldades que vai encontrando pelo caminho, quando chega a um lugar sente que os esforços compensam. «Eu acredito nas viagens. E acho que mais e mais pessoas deveriam fazê-las, para que possamos todos ser embaixadores do mundo em que vivemos», afirma.

E quais são os próximos planos desta octogenária? Uma viagem à Etiópia no próximo outono, onde planeia explorar as igrejas escavadas na rocha e aprender sobre as diferentes tribos do sul. «Será uma experiência muito ativa e por isso pensei: bem, quanto mais cedo, melhor», conclui June Scott.

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