Observação de tartarugas no Sal e Boa Vista gera meio milhão de euros de receitas

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No ano passado, cerca de 20 mil turistas visitaram as praias das ilhas cabo-verdianas do Sal e Boa Vista para observar tartarugas, gerando mais de meio milhão de euros (cerca de 50 mil contos) de receitas, segundo estimativas do projeto Biodiversidade.

Para Albert Taxonera, biólogo do projeto de conservação de tartarugas da ilha do Sal – Project Biodiversity -, as contas são simples: a preservação das tartarugas tem um impacto positivo na economia das ilhas e o grande desafio passa por fazer com que as populações entendam que valem mais vivas do que mortas.

“Calculamos que no ano passado cerca de 20 mil turistas tenham estado nas praias do Sal e da Boa Vista para ver as tartarugas. Se fizermos as contas a 25 ou 30 euros por pessoa, estamos a falar de mais de meio milhão de euros, apenas em quatro meses. Os resultados estão lá”, afirmou.

O biólogo falava à agência Lusa dias depois do início da época de desova da tartaruga ‘Caretta caretta’, que decorre entre Junho e Outubro, e durante a qual mais de 50 voluntários patrulham as praias durante a noite na tentativa de evitar a caça de animais, prática que, apesar de ilegal, continua a existir.

“Há apanha em todas as praias onde não há proteção. Se deixamos de proteger, há apanha. Então, realmente, depende de nós”, referiu.

Acrescentou que é muito difícil conseguir identificar os apanhadores e que mesmo quando são identificados, nada acontece o mesmo se passa com as pessoas que vendem os produtos de tartaruga. Como não há denúncias nem a fiscalização, torna-se difícil a preservação da espécie.

A nossa associação apenas faz trabalho voluntário de patrulhamento das praias, não fiscaliza não tem os poderes para tal porque não é uma autoridade. Contudo a associação faz durante todo o ano um trabalho de sensibilização com as escolas e a comunidade para que todos comecem a entender que a conservação é algo que todos podem fazer e passa por denunciar os vizinhos ou até familiares.

Este ano, a associação, através da Rede de Proteção de Tartarugas Marinhas de Cabo Verde, vai fazer um estudo socioeconómico da comunidade apanhador/comprador.

Na última época de desova, os voluntários contabilizaram 207 carcaças de tartarugas, mas Albert Taxonera acredita que terá havido muitas mais que o projeto não conseguiu registar.

O biólogo acredita que a comunidade começa a entender o impacto positivo das atividades relacionadas com as tartarugas na economia da ilha, mas tem consciência de que tal não implicará, só por si, maior controlo do crescimento turístico do Sal.

E segundo Albert, ainda dá-se mais prioridade a entrada de dinheiro rápido e a construção, em vez da proteção ambiental contudo já houve, mudança da limitação de áreas protegidas para construir empreendimentos turísticos. E hotéis e as pessoas estão a atirar as tartarugas para fora das praias. Estão a concentrar as tartarugas em menos locais. Cerca de 60 ou 70% dos ninhos estão em seis quilómetros de praia.

O movimento dos hotéis e o facto de manterem a iluminação ligada durante a noite está a forçar as tartarugas a deslocarem-se para as praias mais a norte da ilha, de menor qualidade e menos vigiadas. Por isso, a situação da tartaruga ‘Caretta caretta’ ou cabeçuda em Cabo Verde continua ameaçada.

A ‘Caretta caretta’ a nível mundial é vulnerável, mas a sua população que temos em Cabo Verde é ameaçada, é uma das mais ameaçadas do mundo. As populações na Florida (Estados Unidos) ou no Brasil já não são ameaçadas. A única população de ‘Caretta caretta’ ameaçada no Atlântico é a de Cabo Verde. É a única que não progrediu, por falta de trabalho por parte das autoridades.

Albert Taxonera aponta falhas na legislação, no apoio financeiro, na coordenação entre autoridades nacionais e locais.

O Governo cabo-verdiano anunciou quinta-feira uma proposta legislativa que visa criminalizar e punir com penas que podem ir até à prisão efectiva o consumo de carne e ovos de tartaruga, reforçando a legislação que já previa penalizações para a apanha.

A população de tartarugas marinhas ‘Caretta caretta’ de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, sendo apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos) e em Omã (Golfo Pérsico).

As tartarugas visitam as praias para construir os ninhos e depositar os ovos, estimando-se que em Cabo Verde 85% a 90% da nidificação ocorra nas praias da Boa Vista.

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