Em Portugal vão nascer em breve duas cidades aeroportuárias: uma em Cascais, onde existe o aeródromo de Tires, rodeado de uma cadeia e outra no Montijo. Na Madeira fala-se num plano B para o condicionado aeroporto localizado em Santa Cruz e até de uma nova infra-estrutura, a erguer ora na Ponta do Pargo, ora no Paul da Serra, sem que se conheçam projectos que sustentem as declarações feitas.
Será que todos sabem do que falam quando abordam o tema? O que são os aeroportos? Um parque de estacionamento de aviões com um cento comercial no meio?
Pedro Neves, que é membro do Conselho Consultivo da ONU para o Desenvolvimento Económico, considera a concepção redutora. Prefere enquadrá-los num contexto mais vasto, em cidades aeroportuárias sustentáveis.
Concebe um aeroporto como motor de desenvolvimento urbano, criador de valor para a cidade, não apenas no seu perímetro, mas em toda a envolvente. Isto porque entende que cada aeroporto é uma alavanca para desenvolver um conjunto de investimentos imobiliários, “projectos de impacto” ou seja, com agenda social e ambiental, com retorno de capital, com monitorização permanente.
Um investimento para o qual há no mundo muitos interessados, desde que se cumpram com os requisitos apontados, com propensão para a “figitalização”, pois para além da componente física tem impacto na digitalização.
Entende que o sector público deve liderar o processo de construção das salas de visitas do País. E aos que, por alucinação ou convicção, pensam em aeroportos deixa a sugestão: “Pensem de uma forma integrada, sustentável ambiental e financeiramente. E não pensem só no espaço para a logística do transporte aéreo mas sim como algo agregados para vectores com a indústria e a energia”.
Sector com realidade sistémica
‘Aeroportos, novos desafios da mobilidade’ foram tema de conversa no segundo dia do LusoAvia, encontro internacional da aviação que decorre até ontem em Lisboa.
Rosário Macário é professora do técnico. Entende que o negócio aeroportuário vai muito bem. Heathrow e Bruxelas têm lucros de 200 e 20 milhões, respectivamente, enquanto muitas companhias aéreas vão à falência. Afinal, “o futuro brilhante da aviação” não tem sido constante, observa.
Os aeroportos são bem-sucedidos porque não dependem de uma única fonte de receitas. E porque só pagam ao Governo. A diversificação do negócio valeu-lhes o bem-estar. Vivem de taxas de aterragens, do número de passageiros, do processamento de carga e de correio e de receitas de actividades não aeronáuticas. Mas enfrentam desafios, como o método flexibilização da expansão.
Se perceberem que estão enquadrados num laboratório económico, se beneficiarem de pacotes políticos afinados entre todos os agentes, se acolherem contributos de movimentos que pensem fora da caixa têm futuro.
Reforça sobretudo a necessidade de haver políticas abrangentes que não se confinem apenas a taxas aeroportuárias ou outras medidas avulsas, num “sector com realidade sistémica”. O que vem aí, desde a liberalização dos serviços de handling à flexibilização de slots, a muito obriga. R.M.O.