2021: Cabo Verde à procura da economia perdida na pandemia e entre eleições

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Após a quebra de 550 mil turistas em 2020, o governo cabo-verdiano admite que a recuperação do sector, iniciada em dezembro após a reabertura a voos comerciais, acelere no novo ano, para gerar um crescimento económico, no melhor dos cenários, de 4,5% do PIB.

O novo ano vai começar com ‘velhos’ problemas para Cabo Verde, à procura do turismo e da economia perdidos com a covid-19, contexto que marcará a realização de eleições legislativas até março e presidenciais antes de outubro.

Depois da quebra de 550 mil turistas em 2020 (-70%), devido à pandemia, o Governo cabo-verdiano admite que a recuperação do setor, iniciada em dezembro após a reabertura a voos comerciais, acelere no novo ano, para gerar um crescimento económico, no melhor dos cenários, de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

A concretizar-se, será, ainda assim, inferior ao crescimento anual de mais de 5% que se registava desde 2016. Também ficará distante do recorde de 819.000 turistas de 2019 ou da meta estabelecida antes da pandemia de ultrapassar o milhão de visitantes anuais, que garantem diretamente 25% do PIB cabo-verdiano.

O sector, com dezenas de hotéis ainda em ‘lay-off’ e cujas receitas atingiram em 2019 um máximo histórico de 43.103 milhões de escudos (389 milhões de euros), mas que deverão cair para 15.086 milhões de escudos (136 milhões de euros) em 2020, depende também da aviação e é aqui que entra uma das várias dores de cabeça que o Governo ainda enfrentará no novo ano.

Depois de ter apostado na privatização da companhia aérea de bandeira TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde), com a venda, em março de 2019, de 51% a investidores islandeses liderados pela Icelandair, a ‘nova’ Cabo Verde Airlines está parada desde março.

A suspensão dos voos internacionais regulares, para travar a pandemia de covid-19 foi o argumento utilizado, mas a companhia manteve os cerca de 300 trabalhadores em ‘lay-off’ e as três aeronaves paradas mesmo depois da reabertura dos aeroportos, em 12 de outubro, não avançando com qualquer data para a retoma da atividade.

Num mercado cujos voos internacionais para o arquipélago – aeroportos internacionais nas ilhas de Santiago (Praia), São Vicente, Sal e Boa Vista – é agora disputado praticamente em exclusivo pelos aviões das portuguesas TAP e SATA, a Cabo Verde Airlines negoceia desde maio com o Governo uma solução para um financiamento de longo prazo que permita viabilizar a companhia.

Se o negócio da venda da TACV aos investidores islandeses ainda hoje gera críticas da oposição à decisão do Governo, por colocar o setor nas mãos dos privados e ter deixado de realizar voos internos, a solução – ou falta dela – a adotar para o futuro da Cabo Verde Airlines, em que o Estado cabo-verdiano ainda é acionista, promete centrar o debate político até às eleições legislativas, que previsivelmente deverão realizar-se até março.

Nas eleições legislativas de 2016, o Movimento para a Democracia (MpD), de Ulisses Correia e Silva, voltou ao poder em Cabo Verde, 15 anos depois, colocando o Partido Africano para Independência de Cabo Verde (PAICV) na oposição.

Agora, num cenário de crise económica e social após a pandemia de covid-19, Janira Hopffer Almada, impulsionada pelos resultados do PAICV nas eleições autárquicas de outubro último, em que passou de duas para oito câmaras, reconquistando a da Praia, capital do país, ao MpD, tem nova e derradeira oportunidade de chegar à liderança do Governo.

Inevitavelmente, o poder voltará a ser disputado nestas eleições entre a líder do PAICV e Ulisses Correia e Silva, atual primeiro-ministro e líder do MpD, e que acontecem num contexto de crise económica internacional, como na anterior.

Da mesma forma, num cenário de bipartidarismo que domina o arquipélago há quase 30 anos, dois ex-primeiros-ministros, José Maria Neves (2001 a 2016, do PAICV) e Carlos Veiga (1991 a 2000, MpD), já admitiram concorrer às eleições presidenciais que se realizam em outubro, às quais já não se recandidata Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato.

Com duas eleições nacionais a realizar num prazo de meio ano, efeitos económicos devastadores que vão perdurar, a necessidade de mobilizar recursos financeiros e humanos para vacinar mais de meio milhão de pessoas em nove ilhas contra a covid-19, um desemprego, segundo o Governo, ainda nos dois dígitos e uma dívida pública a ultrapassar os 145% do PIB, o ano de 2021, como descreveu o vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, será para “fazer do impossível o possível” em Cabo Verde.

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