Paulo Tubal é empresário no Sector de Viagens e Turismo em Portugal e Cabo Verde com vasta experiência neste negócio. Actualmente a viver entre os dois países, em Cabo Verde na Ilha Sal e a gerir uma agência de Viagens a ISI Turismo Cabo Verde, propomos uma conversa para sabermos a sua opinião sobre a situação em que se encontra o sector de viagens e turismo devido ao COVID-19 na ilha mais turística de Cabo Verde, a Ilha do Sal e a que mais contribui para o PIB Nacional.
- O Turismo tem passado por momentos críticos desde o início desta pandemia da COVID-19 e que estratégias têm ultilizado para resistir a crise e como vê o apoio que foi disponibilizado às agências de viagens?
A estratégia que nós adoptámos foi delineada no seguimento do nosso posicionamento no mercado durante os nossos 16 anos de vida, sempre defendemos a mais-valia que deve existir na diversificação de oferta de produtos, assim como de mercados e nichos de negócio. Sempre foi um dos nossos objectivos não depender de um só produto assim como não estarmos dependentes de um só mercado.
Apostando na estabilidade, formação e profissionalismo da nossa equipa, com um foco muito especial no atendimento e no apoio ao nosso cliente. A qualidade do atendimento conjugada com a passagem de informação completa ao nosso cliente tem feito toda a diferença, não é só vender, mas sim temos o dever de informar de forma completa, aconselhar, recomendar e apoiar para que o nosso cliente tenha todas as informações necessárias para tomar uma decisão fundamentada e segura.
Dai termos feito um esforço enorme, de forma a por vários meios estarmos sempre presentes a apoiar os nossos clientes quando necessitam de nós e do nosso apoio, conseguindo estar sempre abertos em teletrabalho ou presencialmente quando tal era possível, cumprindo sempre as regras sanitárias definidas pelo estado.
Sendo a ISI Turismo possivelmente a Agencia de Viagens mais antiga na Ilha do Sal, vimos também a necessidade de ajudar todos aqueles que necessitavam de apoio e nos procuravam, ajudando e esclarecendo a comunidade, apoiando turistas e residentes no que nos era possível. Inclusivamente a ajudar a resolver algumas questões sociais originadas pelo cancelamento de voos, encontrando soluções para cada caso específico.
Ninguém estava preparado para esta pandemia, estando todos a aprender com ela, tendo noção da realidade do Pais, considero que o maior apoio que tivemos foi a possibilidade de aceder ao Lay Off parcial ou total, assim como a abertura de linhas de credito de apoio á tesouraria das empresas, obviamente que todos desejamos que se faça mais, mas também todos nós devemos contribuir com ideias e propostas para que sejam encontradas soluções e estratégias que permitam gradualmente e mais rapidamente dar inicio á retoma económica e social.
Muito se falou na retoma das acitividades turísticas na Ilha do Sal e como está ser essa retoma?
Muito se fala na retoma, no entanto é necessário ter a noção da realidade e da conjuntura em que estamos inseridos, não só em termos Nacionais como Internacionais, estando nós dependentes de variadíssimos factores para se conseguir concretizar.
Temos de ser realistas, a retoma será muito, mas muito lenta é necessário temos a noção que dependemos da chegada de Turistas, para tal acontecer é necessário termos o Pais preparado em termos de Segurança Sanitária de Saúde e essa parte depende de Cabo Verde, no entanto existem vários factores que não dependem de nós. Em primeiro lugar é necessário que as pessoas se sintam seguras para viajar nos mercados emissores, depois existir procura, sendo necessário que as Companhias Aéreas sintam essa procura e com isso tomem a decisão de repor voos, que obrigatoriamente tem de ser rentáveis.
O mesmo acontece com os Operadores Turísticos, sendo necessário existir procura para que seja possível retomar as operações. Estes processos demoram tempo sendo necessário existirem as condições para tal.
Dai ser necessário uma enorme conjugação de esforços entre todas as entidades oficias e privadas para se reunirem as condições necessárias para tal acontecer. Não descurando que todos os Países do Mundo vivem a mesma realidade, não podendo nós também deixar de levar em linha de conta a concorrência de outros países e produtos, adaptando a nossa oferta, apostando na comunicação e promoção de Cabo Verde, salientando as nossas mais valias para captação de mercados e de clientes nesses mercados.
Sentem que há condições e garantias sanitárias para que a Ilha do Sal seja procurada de novo pelos principais mercados emissores de turistas?
Pelas informações oficiais que nos chegam, na Ilha do Sal praticamente não existem infectados, temos de continuar a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para manter ou mesmo ainda melhorar e solidificar este índice, sendo neste momento extremamente positivo e uma mais-valia. No entanto é necessário mais, sendo fundamental que os índices de infectados baixem em todas as Ilhas, até porque devemos continuar e a tentar aumentar a nossa oferta para o Turismo Interno, dinamizando e contribuindo ainda mais para o crescimento da nossa economia.
A capacidade de testagem é fundamental para essa retoma, relembramos que os testes são obrigatórios tanto na chegada a Cabo Verde, como na partida para aos países de residência desses turistas, dai ter de existir capacidade de se fazer os teste e ter os resultados em tempo útil, tudo isto em função do número de turistas que vão chegando, esta capacidade deve ser assegurada e ajustada em função da retoma dos voos.
Por outro lado temos de confiar, que o estado tem preparadas as condições e garantias sanitárias necessárias para que a Ilha do Sal e Cabo Verde receba os turistas, aliás as autorizações de voos podem e devem levar essa capacidade em linha de conta.
Que medidas e iniciativas estão a ser postas em prática para dinamizar a sua actividade e o que motivou essa decisão?
Essencialmente e cada vez mais apostar na promoção e informação ao cliente, assim como continuar a trabalhar na excelência do nosso atendimento, não perdendo a noção de que esta capacidade deve ser dinamizada 24 horas por dia, todos os dias do ano.
Como é do conhecimento de todos quem decide é o cliente, sendo o cliente a razão da nossa existência temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para termos uma capacidade de resposta imediata e de acordo com as necessidades do mercado em geral.
E essencialmente uma continuada aposta na prestação de um excelente serviço, utilizando meios digitais de baixo custo.
Em Dezembro houve a primeira chegada dos turistas à Ilha do Sal. Isso devia acontecer mais cedo ou aconteceu no momento certo e qual foi o impacto para o Trade Turístico?
Sempre defendemos que o importante era começar a receber Turistas nem que fosse em número reduzido, com isso poderia testar-se as nossas capacidades, assim como gradualmente podermos ir ajustando as nossas capacidades á procura, sendo que o importante seria conseguir passar-se a mensagem para o exterior que Viajar para Cabo Verde é Seguro.
Obviamente que o desejo de todos era que tivesse acontecido mais cedo, e em maior quantidade, no entanto e neste momento é necessário trabalhar para que as operações iniciadas se mantenham e aos poucos ir se criando as condições para que novas operações se iniciem.
Em termos que Marketing promocional do Destino Cabo Verde, o que acha que deveria ser feito para apressar o regresso do mercado emissor de turistas? Ou acha que o está a ser feito e o quem tem sido feito pelas Instituições governamentais do Turismo foi o suficiente para incentivar esses mercados?
Penso que o mais importante é apostar na promoção e informação digital, aumentando a presença on-line do produto Cabo Verde mantendo viva a comunicação com os consumidores delineando-se uma estratégia global e por mercados adaptando essa comunicação as especificidades de cada um.
A determinado momento penso que irá ser necessário investir no apoio directo a Companhias Aéreas e a Operadores Turísticos possivelmente encontrando-se soluções de apoio que podem passar por isenção de taxas, apoios financeiros para Promoção, etc.
No entanto tudo isso deve ter como base uma estratégia claramente definida para cada mercado, enquadrada depois nos interesses económicos globais de Cabo Verde para o desenvolvimento do nosso Turismo.
Sendo que um dos factores que devemos tentar melhorar, é criar condições para que o nosso produto suba na escala de valor, assim como trabalharmos para aumentar a nossa ocupação média.
Por norma não gosto de falar no passado, mas sim no que podemos fazer e contribuir para que se melhore, obviamente que se pode sempre fazer mais, em tudo na vida é assim, no entanto devemos sim aprender e melhorar, apostando neste momento no que temos de fazer a seguir.
Que impacto esta pandemia teve na gestão da sua empresa? Qual foi o impacto na saúde financeira nas empresas do seu sector de actividade?
O impacto em todas as empresas relacionadas com o Turismo foi tremendo, para se ter uma ideia existiram quebras de negócio que vão desde os 50 a 100% (nos meses de Abril e Maio).
Claro que com este nível de quebras de negócio e especialmente pela sua duração (10 meses), ainda não se sabendo quanto tempo esta situação se vai manter foi e é fundamental uma adaptação da gestão á realidade e principalmente existir a capacidade de prever e de tomar as medidas necessárias em tempo útil e de forma realista.
Sendo ainda fundamental adequar o mais possível os custos às receitas, levando em linha de conta que o impacto da pandemia nas empresas em geral, também dependeu da situação financeira de cada uma á data do início da pandemia.
Quanto á nossa empresa, a maior mudança em termos de gestão foi a adaptação diária que necessitamos de fazer, em função da disponibilidade escassa de produtos para a venda, ou seja adequar a nossa comunicação e oferta de produtos aos nossos clientes em função do que existe para vender em cada momento. Sendo que e fundamental promover os produtos existentes, temos de sobreviver com a rentabilidade dos produtos disponíveis, nunca descurando o futuro.
Na sua opinião, que medidas deveriam ser tomadas para proteger o sector turístico, o emprego e a sustentabilidade do negócio que é uma das principais fonte de rendimento de Cabo Verde?
É importante entender que ninguém estava preparado para a pandemia, sendo uma situação nova para todos, sobre a qual todos estamos a aprender, e a reaprender nalgumas matérias. Nesta nova realidade temos de entender que todos os sectores são importantes para o Turismo, no entanto os que considero mais importantes são os serviços de saúde e de comunicação não só interna como externa.
Temos ainda de ter a noção que também cabe a cada um de nós colaborar diariamente no cumprimento das regras sanitárias necessárias, não podemos nem devemos permitir que o desleixo de uns com o não cumprimento das regras sanitárias impostas, prejudiquem a vida económica e social de outros. Melhorar as condições ao nível da Saúde, conseguindo passar-se a mensagem de que Cabo Verde está preparado para receber a todos os níveis, assim como se criar condições para que os vários tipos de turismo se voltem a desenvolver, e com isso poder dinamizar-se o emprego melhorando a sustentabilidade do nosso Turismo e melhorar a nossa economia.
Não podemos ainda esquecer que a segurança de pessoas e bens também é um factor importantíssimo para o Turismo, devendo continuar a existir um investimento e trabalho continuado nessa área.
O momento actual pode obrigar a uma reformulação das estratégias delineadas pela sua empresa, sobretudo ao nível do atendimento ao público, a questão sanitária e na promoção de Cabo Verde Verde como um destino seguro?
As estratégias na nossa empresa sempre se alteraram em função das condicionantes existentes em cada momento, essa é uma necessidade de quem trabalha com o Turismo, quem não tiver essa capacidade não irá sobreviver no futuro. No que diz respeito á questão sanitária e do atendimento ao público, ainda antes das exigências terem sido informadas já a nossa empresa as tinha implementado, antes de mais as nossas maiores preocupações são o bem-estar da nossa equipa e suas famílias, assim como dos nossos clientes.
É fundamental conseguir-se passar a mensagem externa de que Cabo Verde é um destino seguro, para tal é necessário na minha opinião existir uma implementação de estratégias em função dos mercados alvo.
Como pretende cativar os seus clientes?
Como sempre fizemos, apostando no atendimento e na passagem clara de toda a informação necessária para que os clientes sintam confiança nos nossos serviços e tenham condições de decidir de forma segurança e conscientes dos seus direitos e deveres. Melhorando também a nossa presença nos meios digitais, em conjugação com uma resposta em tempo útil às necessidades diárias.
E como vai restabelecer a confiança dos mercados emissores de turistas para que visitem de novo Cabo Verde?
Tem tudo a ver com informação, a nossa capacidade de informar certamente fará toda a diferença, esclarecendo todas as dúvidas e questões que os mercados tenham. O clarificar e responder em tempo útil a todas as questões é um dos factores fundamentais para que exista credibilidade e confiança no produto e que obviamente irá levar a que os turistas voltem a Cabo Verde.
Acha que com a vacinação a retoma será mais rápida ou vamos ter uma recuperação muito lenta em 2021? Será que podemos inverter essa situação, ou seja, o que fazer agora?
Obviamente que a vacina é fundamental para podermos voltar a ter uma estabilidade na nossa vida recuperando com isso alguma normalidade, no entanto a recuperação e a retoma vai demorar a acontecer, até porque a vacinação vai levar tempo, assim como demorará até existir imunidade de grupo. Por outro lado é necessário ter a noção que as Operações Turísticas se planeiam a 3, 6 e 12 meses. O que todos devemos fazer é em função de uma estratégia por mercados, trabalharmos em conjunto para conseguirmos que os que já trabalhavam com Cabo Verde retomem e assim como se tentar captar outros, salientando que cada mercado tem o seu ritmo próprio.
Como é que se faz a gestão de confiança com o cliente/consumidor?
Essencialmente com a capacidade de informar bem, assim como, conseguirmos que qualquer serviço que seja prestado esteja sempre acima da espectativa do cliente, não só na questão da qualidade de serviço mas também na sua escala de valor. Conjugado com um serviço pós venda de excelência, não é só vender mas sim dar seguimento e potenciar sempre, um cliente satisfeito seguramente que nos irá trazer mais clientes, sendo essa e ainda uma das melhores publicidades que podemos ter.
Relativamente às margens dignas para as agências de viagens, vai haver uma redução dos próprios parceiros das agências de viagens, desde companhias aéreas, operadores turísticos, hotéis. Como é que se garante a continuidade das margens dignas?
Quem não tiver capacidade de se adaptar diariamente às condições de mercado, não tem futuro. Dai ser fundamental a valorização do serviço que prestamos, tendo esse serviço de ser pago, caberá sempre ao cliente fazer esse julgamento. Por isso mesmo, a nossa grande aposta é no serviço que oferecemos valorando assim o nosso trabalho, e com isso defendendo a nossa rentabilidade. Sendo cada vez mais importante, o nosso sector se unir passando a mensagem ao mercado que utilizar uma Agencia de Viagens e Turismo devidamente licenciada e certificada, é comprar em segurança sendo uma mais-valia.
Que lições vamos tirar desta crise e como será a recuperação do sector de Viagens e Turismo?
Existem inúmeras lições que podemos tirar com esta crise, a começar pela necessidade de repensarmos a nossa gestão, sendo cada vez mais importante solidificar as empresas de forma as mesmas estarem preparadas para este tipo de contingências e outras. Passando por termos de adaptar a nossa comunicação de forma a podermos chegar aos clientes de forma rápida e directa, apostar cada vez mais em formação das equipas não só de forma individual mas também a que sejam verdadeiras equipas.
Cada vez mais é importante que se desenvolvam parcerias fortes, se melhore o associativismo no sector, e se consiga construir pontes envolvendo sector privado e público com um único objectivo melhorar e fazer crescer de forma sustentável o nosso Turismo, e com isso ajudar a alavancar a economia e o crescimento de Cabo Verde.
A recuperação do sector das Viagens e Turismo demorará tempo, no entanto também pensamos que pode ser uma oportunidade para repensarmos e delinearmos estratégias e com o esforço e colaboração de todos poderemos sair desta pandemia reforçados e mais fortes.