Turismo Residencial entrevista embaixador Pinto Teixeira

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José Manuel Pinto Teixeira foi Embaixador da União Europeia em Cabo Verde tendo decidido, após se ter reformado em Setembro de 2017, fixar residência em Cabo Verde e para o efeito construíu uma moradia na cidade da Praia. Desde Novembro de 2019 é Embaixador da Ordem Soberana de Malta estando instalado na sua residência na Avenida Jorge Barbosa ( Marginal ) frente à praia de Quebra Canela.

Pinto Teixeira é licenciado em Engenharia pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e pós-graduado pela Universidade Técnica da Noruega tendo também feito estudos em Economia Política do Desenvolvimento na London School of Economics.

Com uma carreira internacional de mais de 40 anos 30 dos quais ao serviço das Relações Externas da União Europeia tendo sido Embaixador durante 20 anos em vários países.

Nesta entrevista vamos conversar com o Embaixador Pinto Teixeira sobre Cabo Verde, a importância do turismo, nomeadamente de 2ª residência de que ele é exemplo, e do futuro deste sector no pós-pandemia do COVID-19 que afetou todo o mundo e Cabo Verde muito particularmente dada a importância do turismo na sua economia.

Depois de terminar a sua missão diplomática em representação da União Europeia em Cabo Verde decidiu optar por viver neste país. Um homem como o senhor que conhece o Mundo, porquê a escolha de Cabo Verde? E há quanto tempo está na sua residência?

Cheguei à Praia em Setembro de 2012 vindo da Ucrânia, um dos maiores países da Europa com 50 milhões de habitantes, residindo em Kiev uma grande cidade com mais de 4 milhões de habitantes com uma grande oferta de serviços e ambiente socio-cultural rico e diverso. As primeiras impressões da Praia não foram as melhores e a instalação não foi fácil também porque as condições encontradas em termos de escritórios e residência da UE eram péssimas. Contudo empenhei-me em criar essas condições e dedicar-me inteiramente à causa que me trouxera a Cabo Verde.

Quando fui conhecendo mais pessoas ouvi várias vezes o comentário, referindo-se a estrangeiros que vêm em missão para Cabo Verde, “quando chegam não ficam agradados mas na hora de partir gostariam de ficar”.

E assim aconteceu comigo. Fui criando amizades, conhecendo todos os cantos das 10 ilhas… Sim porque até fui a Santa Luzia e aos ilhéus da Brava, apreciando o bom povo e a Morabeza, a música, as tocatinas e fui-me afeiçoando cada vez mais e quando começou a chegar a “hora di bai” resolvi que iria aqui residir.

A perspetiva de passar o resto da vida num só lugar com um clima frio e chuvoso nunca me agradou tendo por isso sempre querido ter uma casa nos trópicos. Primeiro optei por Moçambique, minha terra natal, aonde construi uma casa na ilha do Ibo após terminar as funções que lá exerci de Embaixador da UE de 2002 a 2006. Dediquei quase 10 anos a viajar para essa ilha paradisíaca, mas remota e de difícil acesso (três dias para lá chegar mais outros tantos para regressar) tendo desistido desta opção em 2015. Infelizmente esta região é agora palco de violência cometendo-se as maiores barbaridades como certamente já ouviram falar na situação em Cabo Delgado.

Aproximando-se a reforma conclui que Cabo Verde era a opção ideal para o meu projeto de vida futura podendo complementar a 1ª residência que já tinha em Portugal com o bom que este país oferece.  Os fatores positivos de Cabo Verde que pesaram na minha decisão foram:

O clima quente, mas ameno com sol e céu azul todo o ano; o mar seguro e com temperatura “amiga do utilizador” todo o ano; a estabilidade politica e social; a proximidade da Europa  (3 a 4 horas até Lisboa) com grande frequência de ligações; a hospitalidade e simpatia do povo; a existência de tudo que é essencial para a vida; as facilidades inerentes a viver num ‘petit pays’ sem stress; uma partilha de valores identitários e culturais; “last but not least” as muitas amizades e laços afetivos criados que me deram uma nova família alargada.

Outro aspecto importante para quem gosta de animais de companhia é a facilidade de os ter aqui. No meu caso tenho, para já, dois “fieis amigos”, um gato ( Xanu ) que é o verdadeiro “patrão” cá do sítio e um pavão agora solitário porque a sua fêmea voou talvez à procura dum parceiro mais ao seu gosto.

A vida na cidade da Praia, embora seja a capital e maior burgo do Arquipélago com 125 000 habitantes, é muito mais calma e fácil do que nas grandes cidades da Europa, factor importante, sobretudo para reformados cuja idade vai-se fazendo sentir. Todos os serviços e bens essenciais estão disponíveis e acessíveis em poucos minutos.

Na ilha de Santiago, onde fica a Praia, existem outras opções no campo ou montanha como São Domingos, São Lourenço, Santa Cruz, São Miguel e Santa Catarina, mas também de várias praias como São Francisco, Praia Baixo e o Tarrafal com a sua esplendida baía.

Quem opte por outras ilhas a vida ainda será mais fácil embora podendo em alguns casos ter oferta mais limitada de serviços. Nas 9 ilhas habitadas de Cabo Verde há ofertas para todos os gostos. Desde a capital da cultura no Mindelo, São Vicente (que me perdoem os praienses, mas certamente a mais bela urbe do país), à Ribeira Grande de Santo Antão com a sua Ponta do Sol, ao mimo que é a Ribeira Brava de São Nicolau, o histórico São Filipe na ilha do vulcão – Fogo e a mimosa Nova Sintra na ilha das Flores (Brava) a oferta é muito variada com montanhas, mas o mar azul sempre à vista.

Quem optar por sol e praia todo o ano a ilha do Sal com a sua Praia de Santa Maria, as praias do Estoril e Chaves na Boavista e no Maio as ondas da praia de Porto Inglês são uma fonte de energia para os nadadores mais competentes.

Por ironia do destino a vida profissional trouxe-me a este país aonde viveram três gerações de antepassados do lado materno na ilha Brava na segunda metade do Seculo IXX tendo a minha bisavó nascido nesta cidade da Praia aonde acabei por ficar radicado a partir de 2019 instalado na moradia que aqui construi frente à praia de Quebra Canela.

Entretanto pouco depois de me instalar o mundo foi afetado pela pandemia do COVID que afetou a vida das pessoas em todos os aspetos e em particular nos países mais desenvolvidos. A Europa e Américas têm estado fechadas e as pessoas com enormes dificuldades e o clima frio no inverno agravou sobremaneira a situação.

Na decisão de me instalar em Cabo Verde não pesou obviamente a possibilidade, então inimaginável, da ocorrência duma pandemia. Contudo esta situação só veio reforçar mais a minha convicção de que fiz uma opção acertada, pois a forma séria e eficaz como Cabo Verde geriu a situação e o contexto neste País fez com que tivéssemos vivido de forma muito mais “suave” que na grande maioria dos países e sobretudo naqueles que são emissores de turismo.

A parte sanitária foi, até agora, controlada, contudo a economia está sendo muito prejudicada devido à paragem do turismo. Faço votos para que o turismo retome o dinamismo que se estava a verificar antes da pandemia, pois será muito difícil assegurar uma politica social sustentável a prazo sem retoma da oferta de emprego e das receitas do Estado.

Em que países foi igualmente diplomata? Há quanto tempo foi embaixador da EU em Cabo Verde e o que achou deste país no contexto geral e que análise faz em relação aos países onde foi diplomata?

A minha carreira internacional, que não foi toda como diplomata, deu-me a oportunidade de viver em vários países. Além disso, o meu espírito aventureiro levou-me a visitar muitos países em todos os continentes e, não sendo por pandemias ou problemas de saúde, tenciono continuar a descobrir novos mundos. O meu plano de vida inclui residir na Praia, mas passar o verão em Portugal e na Europa e em Fevereiro/Março descobrir outras paragens. No ano passado visitei a Argentina, o sul do Brasil e Uruguai que há muito tencionava conhecer tendo regressado a Cabo Verde quando a pandemia já estava a bater à nossa porta. Voei do Sal para Porto Alegre no Brasil e daqui fiz o périplo regressando a Porto Alegre para tomar novamente o voo para o Sal. Estes voos foram na Cabo Verde Airlines que na altura estava em expansão ligando o Sal com 4 destinos no Brasil, EUA, vários destinos na Europa e a África Ocidental. Infelizmente a pandemia parou a aviação pelo mundo fora e a CVA não foi excepção.

Espero que os transportes aéreos a partir de Cabo Verde voltem ao nível atingido antes da pandemia para poder retomar a descoberta de novos destinos. Ter boas e frequentes ligações aéreas é muito importante para atrair também o turismo residencial. Países onde estive não como turista além, claro de Portugal e Moçambique recordo Arábia Saudita, Africa do Sul, Arménia, Azerbaijão, Angola, Bélgica, Bielorússia, Bosnia Herzegovina, Burundi, Congo, Croácia, Geórgia, Jordânia, Macedónia, Montenegro, Ruanda, Noruega, Sérvia, Suazilândia, Ucrânia, Reino Unido. Fui Embaixador da UE em Cabo Verde de 2012 a 2017.

Cada país tem as suas características e também os períodos em que se está em cada país e o que nos levou a eles têm que ser tidos em consideração quando se faz um juízo acerca deles. Portanto não se devem fazer comparações, mas sim avaliar cada experiência com tudo o que ela representou e que contribuiu para alargar os nossos horizontes e, sobretudo aprender muito acerca do mundo e dos povos que o constituem e o que podemos fazer a seu favor. Uma conclusão a que cheguei depois de tantas experiências é que os lugares mais difíceis, até em estado de guerra e insegurança, são aqueles que nos dão as experiências mais marcantes e até, apesar de tudo, boas e inesquecíveis recordações.

Quanto a Cabo Verde, além dos motivos já referidos que me levaram a optar por aqui ficar, notei ao longo da minha estadia uma melhoria das condições de vida, melhoria da qualidade de serviços em geral, melhoria nos transportes e acessibilidades, um crescimento do turismo que a pandemia veio interromper, mas tenho esperança que a normalidade regresse e as melhorias continuem.

Desde 2012 até agora só na Praia a evolução que constatei foi assinalável com requalificação urbana, limpeza, oferta de serviços etc. Para quem procure aqui ter uma 2ª residência ou fazer turismo as melhorias na oferta de serviços de restauração e lazer, por exemplo, são impressionantes com a oferta criada na Prainha e Quebra Canela. Houve também projetos na orla marítima, na zona da Gamboa, que não se entendem e não se ter ainda uma marina é lamentável.

Qual é a sua opinião sobre a saúde em Cabo Verde? Sente-se tranquilo? E em relação a satisfação das necessidades básicas como a alimentação, o vestuário, o lazer, entre outros? 

Sinto-me tranquilo quanto à saúde em Cabo Verde ou mais particularmente na Praia aonde vivo. O estilo de vida com pouco stress, o clima que proporciona uma vida saudável, com banhos de mar, sol, caminhadas, ginásios acessíveis tudo isto contribui para uma vida saudável.

Também se pode fazer uma alimentação saudável com abundância de legumes e verduras, peixe e frutas tropicais e até produtos biológicos “di terra”. Para quem quiser há ainda uma boa oferta de produtos alimentares importados incluindo dietéticos.

Quanto à oferta de serviços de saúde também estou muito satisfeito, pois tenho excelentes médicos de todas as especialidades de que tenho tido necessidade. Pessoas muito disponíveis, competentes, afáveis com quem até se constroem relações de amizade. Embora os meios curativos existentes não sejam sempre os mais sofisticados, podem-se tomar medidas de carácter preventivo como análises, imagiologia etc que permitam identificar patologias que em caso de necessidade são tratadas nos países de origem (no meu caso em Portugal) aonde existem meios para o fazer.

Já tive essa experiência no ano passado quando aproveitei a estadia em Portugal no verão para fazer algumas intervenções do foro cardiológico e ocular. Existem também excelentes dentistas e é aqui que trato de tudo que preciso nesta área em que não há sequer necessidade de recorrer ao estrangeiro.

Para quem sofre de problemas de coluna, como é o meu caso, temos também excelentes meios entre ortopedistas e fisioterapeutas muito competentes e dedicados. Além disto, a manutenção postural e a ginástica apropriada estão também disponíveis com trainers competentes e dedicados.

O serviço ao domicilio também se pode assegurar facilmente. No meu caso, como seria o de outros estrangeiros reformados ou com meios financeiros adequados com seguros de saúde, não constituímos um peso para o INPS pagando diretamente os serviços de saúde prestados em Cabo Verde e recorrendo aos nossos sistemas de seguros de saúde nos países de origem.

Como já acima referi a forma exemplar como Cabo Verde geriu, até à data, a pandemia e as circunstâncias em que temos vivido aqui esta situação estamos melhor do que na Europa e América. Amigos e familiares com quem partilho a situação e a minha experiência aqui durante a pandemia dizem-me quão sortudo sou e que bem fiz em ficar em Cabo Verde.

Devo ainda realçar que a forma séria e eficaz como Cabo Verde lida com questões de Saúde Pública são também muito importantes para turistas tradicionais e ainda mais para os de 2ª residência, pois as campanhas de prevenção contra malária (entretanto praticamente erradicada) e outras doenças protegem-nos a todos, nacionais e estrangeiros residentes ou viajantes.

Dito isto todo ser humano está sujeito em qualquer parte do mundo a ter um acidente fatal, ataque fulminante ou doença incurável de que não se pode safar nem aonde existam os meios médicos mais sofisticados do mundo. As condições de saúde não devem, portanto inibir ao estabelecimento de 2ª residência por parte de estrangeiros reformados ou com a necessária segurança material.

Hoje a internet é uma necessidade básica. Sente-se bem servido neste particular? O Governo lançou recentemente o Programa Remote Working Cabo Verde. Quais as verdadeiras inovações desta solução e o que diferencia na sua opinião? 

Após me ter aposentado do serviço da União Europeia (EU) em Setembro de 2017 iniciei outras actividades nomeadamente Vice Presidente duma Fundação com sede em Bruxelas (ECES) e para a Ordem Soberana de Malta que, entretanto, me nomeou Embaixador não residente em Moçambique.

Estas actividades obrigaram-me a viajar muito até ao início da pandemia nomeadamente para Jordânia, Bruxelas, Nigéria, Africa do Sul e Moçambique. Apesar de então haver possibilidade de viajar, portanto ir fisicamente a estes e outros locais, já tinha que recorrer à internet, pois os contactos não presenciais sempre foram necessários. Após a pandemia e a impossibilidade de viajar todas as actividades passaram a ser por meios com recurso à internet.

A minha experiência tem sido positiva pelo que não tenho tido dificuldades em funcionar dessa forma. Entretanto Cabo Verde adoptou legislação com vista a atrair estrangeiros para se instalarem

aqui fazendo tele-trabalho. Acho uma medida muito interessante visto que desde a pandemia o tele-trabalho passou a ser uma forma de assegurar a continuidade das actividades e mesmo depois de superada a pandemia penso que o tele-trabalho vai continuar ou mesmo aumentar.

Será muito mais interessante fazer tele trabalho em Cabo Verde, saindo de vez em quando para dar um passeio ao ar livre, apanhar sol e até dar um mergulho no mar do que estar a fazê-lo na Europa durante o confinamento em que mesmo que se houve bom clima (que só há uns três meses por ano) não o podem fazer. Para este tipo de actividade e se houver procura por parte de novos residentes deste tipo, não estou em condições de dizer se a capacidade existente em internet é suficiente pois não domino essas tecnologias.

Considero a iniciativa do Governo muito atempada e interessante. A pandemia mudou o mundo e uma das áreas inovadoras de que dela resultaram foi justamente o trabalho não presencial a que obrigaram os confinamentos e que serão continuados sempre que vantajoso no futuro.

O tele-trabalhador terá a liberdade de optar por onde desenvolver a sua actividade e as vantagens de Cabo Verde foram antes salientadas. O exemplo do casal japonês que ficou bloqueado no Sal durante a sua lua-de-mel devido ao cancelamento dos voos no inicio da pandemia é um excelente exemplo. O casal fidelizou-se e criou laços de futuro com Cabo Verde além de promover este destino no Japão que nunca foi mercado emissor de turistas para cá. Numa população de 125 milhões uma ínfima percentagem que se interesse por visitar Cabo Verde são logo uns milhares a mais no fluxo turístico e tendo ainda diversificado o mercado.

Recomendaria a outros diplomatas o estabelecimento de residência em Cabo Verde?

Os diplomatas e funcionários de organizações internacionais são um público alvo relativamente reduzido pelo que acho que se deve ter em conta o universo de reformados, sobretudo na Europa que se poderia interessar por se estabelecerem em Cabo Verde. Só assim se poderiam atingir números importantes passiveis de ter um grande impacto na economia do país.

Certamente os membros da comunidade internacional que desempenhem funções em Cabo Verde são por esses motivos obrigados a estar cá durante algum tempo e daí resultar alguns decidirem fixar residência neste país. Conheço alguns casos que o fizeram já muito antes de eu próprio e até uns que continuam activos nas suas carreiras mas tendo comprado aqui casa vêm periodicamente com a intenção de se estabelecerem quando terminarem as suas vidas profissionais activas.

Quanto à diplomatas nomeadamente Embaixadores que terminem a sua carreira em Cabo Verde e aqui passem a residir penso que fui o primeiro e ficaria satisfeito se com este exemplo outros pudessem vir a fazer o mesmo no futuro.

Noutros países conheço casos, por exemplo, um colega italiano que conheci na Macedónia, aonde fomos Embaixadores contemporaneamente, que ao terminar a sua carreira como Embaixador de Itália na Colômbia fixou ali residência aonde é também Embaixador da Ordem Soberana de Malta.

Portugal é um país popular para Embaixadores fixarem residência após concluírem as suas carreiras. Do grupo de Embaixadores de Estados Membros da UE residentes em Lisboa e acreditados em Cabo Verde do tempo em que estive aqui com a UE, duas fixaram residência em Lisboa, a saber, da Suécia e Chipre, esta menos expectável vindo dum país mediterrânico com muitas semelhanças com Portugal.

Antes da adesão de Portugal à UE um Embaixador que ficasse no país após concluir a sua carreira em Lisboa mantinha os privilégios e imunidades inerentes à sua última função ao abrigo da Convenção de Viena. Constou-me que a Suiça ainda mantém esta situação.

Contudo, como acima disse para ter impacto económico significativo o turismo de 2ª residência tem que almejar, sobretudo o mercado europeu com dezenas de milhões de reformados com rendimentos garantidos bastante razoáveis ou mesmo bons e com uma expectativa de vida cada vez mais longa que procuram o sol, mar e qualidade de vida para passar a última etapa do seu percurso “neste mundo”.

Desde os anos 60 do século passado que milhões de cidadãos oriundos do norte da Europa (Alemanha, Reino Unido, Escandinávia, Holanda, Bélgica etc) se instalam nos países do sul (Espanha, França, Grécia, Itália, Portugal) para aí residirem após reforma e gozarem das condições que aí encontram que a natureza não proporciona nos seus países. Há uns 20 anos estes “garimpeiros do sol” começaram a procurar destinos no norte de África  (Marrocos, Tunisia), sobretudo franceses e belgas embora o receio de insegurança provocada pelo terrorismo fundamentalista não os torne muito atrativos.

Mais recentemente com o fim do comunismo e o crescimento dos rendimentos na Europa Central e de Leste as fileiras de “Sun seekers” não deixam de aumentar (polacos, checos, húngaros, bálticos, russos, ucranianos etc) todos procurando os mesmos destinos no sul da Europa.

É este mercado que Cabo Verde deve explorar e tem condições, em alguns aspectos melhores, do que os países que até agora atraem a quase totalidade destes potenciais detentores de 2ª residência.

Este grupo alvo no geral mantém a sua 1ª residência no seu país de origem aonde regressam anualmente durante o verão, pois aí encontram nesse período um clima ameno que lhes permite desfrutar do melhor das suas terras. O resto do ano estão nos referidos países do sul da Europa aonde o clima, embora melhor do que nas suas terras, não deixa de ser frio e chuvoso e o desfrutar do mar é inviável por estar normalmente revolto, com correntes e temperaturas gélidas.

As Canárias a uma hora de voo de Cabo Verde recebe 15 milhões de turistas ano sendo uma boa parte residentes reformados sobretudo nos meses de inverno. Existem muitas semelhanças entre Cabo Verde e as Canárias não só por serem ambos arquipélagos mas também na orografia, escassa pluviosidade, muitos kilometros de litoral etc. Contudo Cabo Verde tem durante o inverno uma temperatura mais alta tanto do ar como do mar que é também mais calmo nesta estação. Estes factores constituem uma vantagem considerável de que Cabo Verde poderia tirar partido, pois uma hora mais para aqui chegar tem pouco significado no tempo de voos do centro e norte da Europa.

Embora se tenham verificado esforços importantes ultimamente, Cabo Verde tem ainda muito trabalho para fazer em melhorar infraestruturas, requalificar e ordenar o território sem esquecer a orla marítima de todas as suas ilhas grande parte das quais inaproveitadas e que é aonde se encontra o maior potencial para atrair investidores de 2ª residência.

O Turismo Residencial constitui uma das modalidades, mas singulares da actividade turística já que implica a permanência temporal numa segunda residência, donde se realizam actividades recreativas de descanso e profissionais num destino diferente do quotidiano. Para si quais são os principais países que teriam interesse em investir em turismo residencial em Cabo Verde?6

Além do que já acima foi dito penso que em todas as nacionalidades europeias haverá potenciais interessados por razões já referidas, mas que os de países do sul – Espanha, França, Itália e Portugal – terão ainda como interesse acrescido a maior proximidade cultural e linguística.

Os italianos são possivelmente os europeus que mais contribuíram, na sua época, para o conhecimento de Cabo Verde como destino turístico ao serem os percursores do investimento turístico na ilha do Sal e depois Boavista quando da abertura do país ao turismo nos anos 90 do século passado. Sem esquecer o investidor belga do emblemático Hotel Morabeza no Sal que foi realmente o primeiro, mas num contexto e tempo muito particular uns 20 antes.

Encontram-se italianos no sector do turismo (restauração, alojamento e residentes) em todas as ilhas habitadas do arquipélago, até na Brava! Existem, contudo já números importantes também de residentes de outras origens europeias como Portugal, Espanha, França, Alemanha, Suiça, Bélgica, Holanda alguns sendo operadores económicos, mas também quem goze as suas reformas no país.

Na ilha do Maio existem vários casos de turismo residencial nomeadamente o complexo Stela Maris desenvolvido há mais de 10 anos por italianos. Este parece-me um excelente modelo para desenvolver turismo residencial em condomínios de moradias com infra-estruturas comuns, de que os proprietários podem tirar rendimentos alugando as suas casas a turistas durante as suas ausências.

Do que tenho observado penso que o Maio deve ser das ilhas em que há mais turismo residencial por habitante e até já encontrei uma família da Lituânia que ali vai várias vezes por ano em férias e um senhora da Nova Zelândia que lá vive há anos e explora um bar de praia.

Penso que o modelo de condomínios de moradias no litoral com serviços e infraestruturas comuns em que se requalifique a orla marítima contigua incluindo acessibilidade ao mar tem grande potencial para o turismo residencial em Cabo Verde.

Acha que Cabo Verde tem tudo para promover o turismo residencial com sustentabilidade? E o  que Turismo Residencial pode trazer para o país? Que impacto teria em Cabo Verde?7

O impacto do turismo residencial é enorme. Começa logo por implicar um investimento importante para compra ou construção da residência que assegura empregos directos no sector da construção e afins. Depois os empregos permanentes ou part-time, gerados diretamente com pessoal doméstico e todos os serviços associados com a instalação do turista residencial. E de forma sustentável a contratação de serviços variados e o consumo de todos os bens necessários para a vida desses residentes. Os prestadores de todo tipo de serviços (manutenção do imóvel, assistência médica, ginásios, restaurantes, etc) bem como os fornecedores de bens de consumo (agua, luz, comunicações, transportes, supermercados, vestuário etc) beneficiam com o aumento do seu volume de negócios e o Estado  dos impostos diretos (IUP) e indiretos (IVA) pagos pelos turistas residentes. Este pode também dinamizar o turismo interno, pois embora residindo numa ilha terá vontade de visitar outras – 10 ilhas 10 destinos – contribuindo para o aumento do mercado de transportes importante para criar massa critica que aumente a oferta e a concorrência.

Turistas residentes idosos podem ter em Cabo Verde melhor qualidade de vida empregando pessoal e serviços vocacionados para a geriatria em condições mais independentes e dignas do que acontece em muitos casos nos Lares de Idosos na Europa.

No meu caso emprego em tempo inteiro um Encarregado de manutenção geral e motorista da minha total confiança que praticamente zela pelo bom funcionamento da casa de que toma conta durante as minhas ausências prolongadas como no verão em que me mudo para a 1ª residência em Portugal. A mulher deste encarregado ocupa-se das tarefas domésticas gerais assegurando a limpeza mesmo nas minhas ausências. Tenho ainda um guarda noturno permanente. De forma temporária em função das necessidades tenho uma cozinheira e um mordomo e em caso de recepções ou convívios mais alargados (raros neste contexto de pandemia) o pessoal temporário é reforçado.  Recorro a serviços de jardinagem quando necessário reforçar os meios existentes.

Além dos salários e remunerações pagas estas pessoas são uma segunda família que ajudo dentro do possível para facilitar as suas vidas e dos seus filhos. Realço que durante a pandemia, por exemplo, quase todos os hotéis fecharam com as inerentes consequências nos rendimentos dos trabalhadores. Um turista residente que tem uma reforma assegurada tem meios para assegurar que o seu pessoal continua a receber as suas remunerações e que os bens e serviços de que necessitam continuam a ser consumidos.

Tenho considerado, sobretudo os reformados europeus que venham residir em Cabo Verde mas existem outros grupos que podem também engrossar o número como por exemplo reformados da diáspora na Europa e EUA que ainda por maioria de razão terão interesse em regressar à terra para gozar os últimos anos de vida.

Com as boas ligações aéreas com o exterior que existiam antes da pandemia  (para Europa, EUA,  Brasil) outros mercados como de brasileiros poderiam se interessar por virem se aposentar em Cabo Verde aonde encontrariam um ambiente semelhante ao seu grande país (…São Vicente é um Brasilinho…) mas com tranquilidade e segurança que rareia por lá.

E o que temos de fazer para criar esse produto e promove-lo a nível internacional, ou seja, como tornar Cabo Verde apetecível nesse mercado?8

Para atrair estes potenciais investidores Cabo Verde tem que se dar a conhecer e o que lhes pode oferecer de mais atrativo que os seus destinos tradicionais. Especialistas na matéria estarão mais habilitados a opinar como atingir estes objectivos sendo as opções condicionadas como sempre pelas disponibilidades financeiras.

Contudo Cabo Verde podia desde já divulgar a opção de 2ª residência, sem custos adicionais, visando os turistas e viajantes que demandem o país através de plataformas on-line como a EASE.GOV.CV que se destina ao cumprimento dos requisitos de entrada no país de cidadão europeus. Ao aceder à EASE além do objectivo para que este foi criado, poderiam estar associadas as informações relacionadas com os atrativos e vantagens de ter uma 2ª residência em Cabo Verde bem como dos incentivos associados. Também nas campanhas de promoção turística do país incluindo participação em Feiras internacionais de turismo se deve fazer a promoção do turismo residencial além do tradicional.

A base legal para estrangeiros reformados fixarem residência em Cabo Verde existe desde 1996 ao abrigo da Lei nº 19/V/96 de 30 de Dezembro. Isto significa que as autoridades cabo-verdianas de então já tinham consciência da importância deste segmento de turismo para a economia do país. Contudo os resultados ficaram aquém do que se poderia imaginar talvez por falta de adequada divulgação e criação de condições atrativas.

As pessoas que se queiram habilitar a residir em Cabo Verde ao abrigo desta Lei têm que submeter o seu pedido num dos postos consulares no exterior dando prova de vários requisitos como rendimentos financeiros garantidos pela sua reforma, atestado médico comprovando estar de boa saúde, registo criminal limpo etc. No meu caso obtive o estatuto de residente ao abrigo desta Lei em meados de 2018 sendo na altura a segunda pessoa a tê-lo conseguido (nº 2/2018) nesse ano o que confirma a fraquíssima adesão provavelmente por falta de conhecimento do país e sua oferta e das condições oferecidas que incluem possibilidade de importar os bens pessoais e uma viatura isentos de direitos alfandegários.

Mas além das questões de divulgação para atrair turistas residenciais, Cabo Verde tem um trabalho mais difícil e ambicioso para melhorar vários aspectos importantes para assegurar a atratividade, pois as condições naturais excelentes que tem não chegam.

Já referi que os mercados na Europa e até no norte de África com quem Cabo Verde tem de competir estão muito mais bem preservados em áreas importantes para atrair o turista residente.

Tenho em mente o ordenamento do território, a qualidade e boa imagem das localidades com uma arquitetura e cromática tradicional característica, proteção e preservação da paisagem rural e urbana, a proteção do ambiente, as atitudes e comportamentos da população em geral. Os recentes esforços de requalificação levados a cabo em iniciativas conjuntas do Governo e dos municípios por todas as ilhas são um importante e necessário passo, mas que não é suficiente.

Têm que se ultrapassar as situações que persistem em Cabo Verde com construções desordenadas sem características próprias nem sequer pintadas, falta de arborização e plantas em aglomerados populacionais, comportamentos impróprios com o lixo urbano, rural e litoral, melhoria da qualidade e comportamentos de prestadores de serviços em particular os ligados ao turismo, recolha e tratamento de lixos a nível de todas as ilhas.

Estes aspetos são essenciais para diversificar o turismo em termos de distribuição geográfica para além do sol e praia que está concentrado nas ilhas de Boavista e Sal. As melhorias indicadas é que poderão contribuir para o turismo chegar a todas as ilhas em quantidades importantes e nomeadamente para atrair o turismo residencial.

Cabo Verde já é uma potência turística se considerarmos que estava prestes a atingir um número duas vezes superior ao de habitantes, mas para chegar a um patamar comparável com destinos com quem possa competir tem de se aproximar dos melhores modelos de turismo de qualidade, incluindo o residencial, que são cada vez mais procurados.

As mudanças necessárias envolvem todos os actores nomeadamente as instituições do Estado, as autarquias, a sociedade civil, os partidos políticos, os operadores do turismo que se devem pôr de acordo com esses objectivos para depois os implementarem de forma coordenada. Só assim Cabo Verde poderá conseguir que o turismo se diversifique (tradicional e de 2ª residência) e se distribua por todas as ilhas em vez de continuar concentrado em práticamente  duas.

Que mensagem gostaria de deixar aos cabo-verdianos para a promoção do turismo residencial no país?9

Espero já ter contribuído nas mensagens anteriores para sensibilizar os cabo-verdianos para as vantagens em ter turismo residencial em números razoáveis que possam contribuir para um impacto positivo na economia de Cabo Verde.

O turista residencial é alguém que se compromete com o país e o seu futuro. Investe para criar as condições para se estabelecer dinamizando a construção e o imobiliário; cria empregos diretos; consome bens e serviços locais; contribui para as receitas do Estado através dos impostos diretos e indiretos; contribui para o crescimento do PIB.

Ao contrário do turista visitante o residencial permanece no país independentemente de pandemias ou outras calamidades do mesmo tipo que venham a ocorrer pelo que contribui de forma sustentável para a economia do país.

Cabo Verde é um país pequeno, mas com uma taxa demográfica positiva pelo que é necessário assegurar o crescimento da oferta de emprego para os jovens que anualmente entram no mercado de trabalho. Contudo até agora não tem sido possível assegurar esse emprego para todos pelo que a emigração continua a ser muito procurada.

O crescimento do turismo residencial poderá contribuir em larga medida para mitigar e até inverter esta tendência. Toda a sociedade cabo-verdiana deveria tomar consciência desta oportunidade e jogar o seu papel para melhorar a atratividade de Cabo Verde nos aspetos ainda necessários para bem de todos: os nacionais e os estrangeiros que queiram aqui viver contribuindo para uma economia mais pujante e sustentável.

INTERVENÇÃO do Manuel Mota da Cruz Delgado mais conhecido por Nice

Na conversa que tivemos com o Embaixador Pinto Teixeira disse-nos que o senhor é o seu braço direito. Queríamos saber como é trabalhar com o embaixador Pinto Teixeira?

O Embaixador Pinto Teixeira é uma pessoa excepcional que me acolheu muito bem e a minha família. É uma pessoa humilde e de bom trato e por isso não tenho nada negativo em relação a pessoa do embaixador Pinto Teixeira. Para mim é um anjo da guarda que Deus me deu e que eu necessitava porque a humildade é extremamente importante. Através dele muitas pessoas que lidaram com o embaixador o conhecem o fino trato deste senhor. Estou a trabalhar com o embaixador Pinto Teixeira há dois anos e tenho exercido as minhas funções com muita responsabilidade para poder ganhar a confiança a aquele que nós servimos.

O embaixador Pinto Teixeira  muitas vezes viaja para fora do país, as vezes por 3 meses e por isso precisa de ter alguém com muita responsabilidade, honesto e de confiança para tomar conta da sua residência. E quando regressa encontra tudo em ordem e isso é muito importante, portanto isso cria credibilidade e confiança no nosso relacionamento profissional.

Eu sou de Santo Antão e não tínhamos conhecimento, mas o Embaixador viu na minha pessoa a confiança, a responsabilidade, a credibilidade durante o tempo que estive a trabalhar na empresa de construção que construiu a sua residência por isso agradeço à Deus que tenha muita saúde e que viva muito tempo connosco e com ele a minha vida está tranquila e praticamente somos a família do embaixador Pinto Teixeira, e  não nos deixa sentir de outra forma.

A confiança, a responsabilidade e a qualidade prestação de serviços são factores essenciais para promover o Turismo Residencial em Cabo Verde.

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