A ANHBCV- Associação Nôs Herança de Batucadeiras da Cidade Velha é a mais antiga de Cabo Verde

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No dia 25 de fevereiro de 1990, um grupo de 20 mulheres, na sua maioria mães solteiras e peixeiras da Cidade Velha reuniram-se para fundar a primeira Associação de Batuco do país, denominada “Nôs Herança”, objetivando promover, celebrar e divulgar a nossa mais antiga manifestação tradicional.

Ao longo destes 31 anos, “Nôs Herança” organizou e participou em mais de uma centena de atividades que procuram a preservação e a promoção deste género musical dentro e fora do país, destacando-se as seguintes:

  • Atividades Governamentais e Diplomáticas, entre as quais a recepção da Santidade a Rainha da Espanha a Cidade Velha, do responsável da UNESCO, do representante da Organização Mundial do Comércio, entre outros.
  • Expo-98 Lisboa
  • Festival Baía das Gatas, S. Vicente 1999
  • Festas das Vindimas, Palmela – Lisboa 2006
  • Burela, Espanha 2010
  • Festival de Gorée, Senegal 2010
  • Lituânia Festival, 2012
  • Festival de L´lmaginair, Paris 2012
  • Intercâmbio Cultural em São Tomé e Príncipe 2012 e 2013
  • Festa dos Marinheiros 2014
  • Festi-bela Catumbela, Angola 2014
  • Atlantic Music Expo 2013, 2014, 2015
  • Encontro de Batucadeiras promovido pelo Moinho da Juventude, Lisboa 2016
  • Festa Banderona Cidade Velha
  • Festa Galiza, Burela 2017
  • Celebração do 43º aniversário da Independência da República de Cabo Verde no Senegal (intercâmbio com Batucadeiras Kadente de Senegal) 2018
  • Intercâmbio cultural e vários eventos nos EUA em 2019

Tiveram a participação em vários discos e em 2009 lançaram o seu primeiro CD denominado “Nôs Patrimonio”.

Destacam-se ainda a participação no programa musical da RTP África “Kintal di Belinha” produzido e emitido em 2018.

Foram vários os videoclipes onde o grupo levou tradição e divulgou as paisagens da Cidade Velha, dentre eles “Ilha de Santiago – protagonizada na voz da Mayra Andrade” e mais recentemente “Bai – de Soraia Ramos”.

O grupo é hoje constituído por 12 mulheres e ganhou o estatuto de utilidade pública. Foi também reconhecido com o Diploma de Mérito Cultural pelo antigo Ministro da Cultura Manuel Veiga, pelo antigo presidente da Câmara Municipal da Praia Felisberto Vieira e pelo antigo Diretor do Palácio da Cultura José Maria Barreto.

Consta realçar, que a Associação enquanto grupo cultural tem formado ao longo dos anos crianças e jovens, sendo o resultado prático a criação do Grupo “Bawtukinhas”, consideradas herdeiras do grupo “Nôs Herança”.

Lançou em 2019, com financiamento do programa Bolsa de Acesso a Cultura, do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, um projeto de formação denominado “Batuco di undi ki ben” que visou relançar o ensino do Batuco na sua real dimensão histórica, através da expressão musical-coreográfica.

Transmitir a nova geração de jovens da Cidade Velha, o valor cultural e histórico que este género musical teve na emancipação do povo crioulo, é a missão deste projeto.

A patrona da Associação, a mais velha e aquela que carrega as memórias de outrora, a Nha Marina, completou no passado dia 10 de março 83 anos.

Foi considerada em 2018 como uma das 80 mulheres africanas mais ativa na cultura, pela sua idade e longa caminhada na preservação da cultura de Cabo Verde.

No dia 25 de março do corrente ano, “Nôs Herança” esteve presente e ativa no Parlamento, no ato de aprovação do projeto de lei que institui o Dia Nacional do Batuco que vai coincidir com o Dia da Mulher Africana, 31 de Julho.

De acordo com este projeto de lei, “a instituição do Dia Nacional do Batuco visa promover e garantir a defesa dos direitos humanos, da população, direitos das mulheres, e do género musical cabo-verdiano, tradicionalmente executado por mulheres, que se baseia na percussão e no canto e dança, principalmente na ilha de Santiago.

O propósito é valorizar e exaltar o batuco como um dos géneros musicais mais antigos de Cabo Verde, reconhecendo a sua importância como património nacional.

A instituição do Dia Nacional do Batuco visa ainda louvar os intérpretes e aqueles que ajudaram na criação do universo cultural diversificado que expressa no batuco a alma cabo-verdiana e o reconhecimento aos direitos humanos, aos direitos dos cidadãos, das populações e das mulheres.”

Segundo o Instituto do Património Cultural, “o batuque é uma manifestação cultural secular em Cabo Verde. Combina poesia, voz, música e dança.

Gerado a partir do saber popular, da oralidade, redunda numa prática social, simultaneamente, ritual e ato festivo, prenhe de conteúdo cultural, expressão de uma identidade própria.

Uma das primeiras referências ao batuque encontra-se no primeiro romance cabo-verdiano, “O escravo”, de Evaristo D’Almeida, que reporta sessões nocturnas de batuques na zona de Boa Vista. Proibido, repelido pelo poder colonial, que o considerou  lascivo, pernicioso, ofensivo à boa moral, as sessões aconteciam sempre tarde da noite, quando o escravo dava por terminado o dia de trabalho, num  acto de resistência.

O IPC lembra ainda que o batuco foi “proibido, repelido pelo poder colonial, que o considerou lascivo, pernicioso, ofensivo à boa moral”.

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