A Conectividade em África é importante para o setor turístico

Entrevista Exclusiva Lai Mohammed – Ministro da Informação e Cultura da Nigéria

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Alhaji Lai Mohammed é uma das figuras importantes na política da Nigéria atualmente. É um membro importante do Congresso All Progressive e o atual Ministro da Informação e Cultura da Nigéria.

Quais os desafios existentes no setor do turismo neste momento de recuperação pós-Covid?

Eu acho que o desafio encontra-se dentro da própria indústria. Basicamente, a pandemia afetou a indústria do turismo porque esta indústria, particularmente, se estivermos a falar da indústria de viagens, sofreu.  Quando perdemos o controlo das nossas fronteiras, voos locais e internacionais são impactados pela quarentena e o impacto no turismo local é enorme, porque não afeta apenas indivíduos no singular, mas sim toda a indústria.   Afeta hotéis, agências de viagens, companhias aéreas, e quando olhamos para a capacidade de empregabilidade total daqueles que estão envolvidos na indústria, conseguimos ver melhor como a economia tem sido afetada.

E o grande desafio da pandemia é que afeta vidas e subsistência. Então, por um lado, queremos muito salvar vidas. Mas para salvar vidas, tivemos de fechar, restringir eventos sociais. Tivemos que restringir as pessoas de estarem juntas num só lugar. Então, estamos a tentar salvar vidas, mas na verdade estamos a prejudicar a economia e as vidas das pessoas não serão a mesma coisa em lugar nenhum, porque, gradualmente, todos os países (não sei quanto a Cabo Verde) mas na Nigéria tivemos duas quarentenas em que as pessoas aderiram ao distanciamento social e em que foi pedido que as pessoas ficassem em casa. E quando passamos por um confinamento, a produção pára, porque as pessoas não podem trabalhar, e o desemprego aumenta. O que acontece no meu país é que se perdeu milhares de empregos, na Nigéria. Porque o nosso país é bastante grande, mas cerca de 70,000 empregos foram perdidos na indústria.

Mas, como sabe, o turismo varia de país para país. Aqui, vocês são aquilo a que eu chamo um destino turístico. Aa pessoas vêem aqui para visitar as belas praias, pelas águas cristalinas, e é a isso que chamo um destino turístico. As pessoas têm de vir até à ilha do Sal para poderem experienciar a beleza e alegria da ilha.  Mas na Nigéria, o turismo é um pouco diferente, na medida em que os nossos pontos fortes não são aqueles que há num destino turístico. Aí, nós tiramos proveito da nossa indústria criativa, da nossa música, da nossa indústria cinematográfica, da nossa indústria de moda, e, como vêm, estes são também aspetos do turismo.  E as pessoas não vão até à Nigéria para ver alguma coisa. As pessoas vão até à Nigéria para ouvir a música nigeriana.  Além disso, os nossos próprios esforços para a construção de infraestruturas a serem utilizadas para que todos pudessem experienciar e ver e partilhar os nossos filmes e a nossa música (são também muito importantes).

Ás vezes, viajamos de avião e estamos a ouvir música nigeriana.  Neste momento, decidimos fazer grandes concertos no Reino Unido e nos Estados Unidos e por todo o mundo. Portanto, para nós que vivemos na Nigéria, a indústria criativa e cultural é um meio importante (ministério) para todo o turismo. Porque, se vamos ter mais infraestruturas, salas de espetáculos, cinemas, espaços de apresentação, isso significa que mais pessoas podem vir e assistir aos nossos filmes. Mas, mais importante ainda, neste momento estamos a fazer na Nigéria é que demos início a um processo ao qual chamamos uma transição digital.  Essa transição é um processo em que passamos o nosso sistema televisivo de analógico para digital.  O que isto significa é que, no sistema já desenvolvido, podemos ter 3, 4, 5, 6 canais televisivos nacionais. Para nós, passar do analógico para o digital significa que podemos ver até 30 a 60 canais.  Quando tivermos completado a nossa transição digital, seremos a maior plataforma de transição em toda a África, porque vamos trazer esta mudança a 24 milhões de casas só na Nigéria. E tendo 24 milhões de casas, isso significa que o governo irá emitir mais licenças televisivas, haverá mais canais, mais produções e mais conteúdo, mais atores, mais atrizes. E calculamos ainda que esta transição digital criará 1 milhão de novos empregos nos 3 anos que se seguem. Porque, a forma como isto funciona é que temos de tratar da produção, temos operadores de câmera, ajudantes, técnicos, diretores, produtores, pessoas que são responsáveis pelo guarda roupa e pela moda, o que significa que uma só produção poderá criar mil novos empregos, dependendo da produção, é claro.

Agora, no que diz respeito à música, haverá mais produção musical, e teremos também mais canais especializados; canais dedicados à culinária, à religião, à moda, à comédia, à dança, e canais dedicados a coisas como a educação e afins. Então, é um grande negócio, e significará a criação de mais postos de emprego, mas será também algo que teremos a ganhar no que toca à transferência de tecnologia, porque para mudar de analógico para digital, é necessário aquilo a que chamamos uma setup box, uma box digital que torna as imagens mais claras e é multifacetada, contém muitos canais ao mesmo tempo.

O governo, neste momento, já tem setup boxes em produção com produtores que neste momento já estão a produzir setup boxes para todas as televisões do país. Imaginem o tempo que levará aos produtores para produzir 24 milhões de boxes. Isto para dizer que está, portanto, a criar empregos, mas, mais importante ainda, estas boxes são, agora, montadas na Nigéria, e tudo isto cria emprego na Nigéria.  Para nós na Nigéria, a nossa indústria criativa não consiste apenas nas nossas atrações turísticas, mas também dos produtos que produzimos. Nós não temos praias lindas, mas temos outras coisas a oferecer. As pessoas não vêm até à Nigéria por causa de praias. Mas vêm até à Nigéria por causa da nossa música, dos nossos filmes, da nossa indústria de moda. E é nestes pontos que criamos os nossos pontos fortes, através da verdadeira indústria criativa.  Adicionalmente, a cultura e a indústria criativa estão interligadas, por isso sabemos que construir infraestruturas é importante para a construção de uma plataforma. Nós temos um novo Teatro Nacional, temos grandes esperanças quanto ao mesmo, e quanto à indústria da moda, à produção cinematográfica e musical, para que possamos projetar a nossa cultura, a nossa tradição e a nossa religião a todos.

Do seu ponto de vista, que tipo de cooperação poderá haver entre Cabo Verde e a Nigéria na indústria criativa, mas mais importante, na indústria cinematográfica?

Acho que tem de ser uma co-produção. Então, nós temos o capital humano, temos os diretores, os produtores, os roteiristas, temos também contadores de histórias, temos o conteúdo. Mas não podemos ir até Cabo Verde e utilizar os vossos lugares, as praias que vocês têm as ilhas que existem aqui. Estas paisagens não podem ser utilizadas, a menos que tenhamos aquilo a que chamamos uma co-produção entre Cabo Verde e a Nigéria.

Além disso, podemos ainda cooperar na desenvoltura de histórias, porque Cabo Verde é também um país cheio de história. E eu acho que não damos estas histórias a conhecer ao mundo o suficiente.  O que se sabe é que Cabo Verde foi descoberto em 1460, que Santiago era a ilha mais acolhedora, e por isso os portugueses vieram até aqui e que depois, claro, começou otráfico e a escravatura, e que foi colonizado pelos portugueses. Mas, quantas pessoas lembram-se dos heróis de Cabo Verde?   Quantas pessoas se lembram de que, até há uns anos atrás, a Guiné-Bissau e Cabo Verde eram, na verdade, um só país?  Quantos se lembram de quem era Amílcar Cabral?  Acho que este é o tipo de histórias que vocês podem realçar e em que o nosso povo pode trabalhar em conjunto e criar sucessos de bilheteira.

Então, eu acho que sucessos de bilheteira podem ser fruto do trabalho de dois países, mas ficou claro, especialmente ao virmos até aqui, que a conectividade é tão má que nos levou três dias a chegar até aqui.    E, no total, voamos por 6 horas. Então, como uma equipa, podemos ter as infraestruturas, em termos de tráfego aéreo e conectividade, para podermos ter a capacidade de estar juntos e de colaborar. Porque isto irá afetar as nossas operações de colaboração e cooperação. Às vezes temos que ir até Lisboa para que possamos chegar até aqui, não há transporte direto!

Antes da pandemia, estávamos a  começar a desenvolver a conectividade entre os países africanos, e um desses destinos é Abuja. Por isso, agora temos de esperar…

Durante o Fórum discuti esta situação com o Carlos Santos, Ministro dos Transportes, e o que me foi dito é que, na verdade, é que programaram voos entre Lagos e Sal e também Abuja.  E acho que, pós-covid, iremos restabelecer o projeto, e pretendo também discutir a situação com o meu Ministro dos Transportes, para a coneção entre a Nigéria e Cabo Verde, e com isto facilitar voos diretos de companhias aéreas nigerianas para as ilhas do Sal e da Praia.

 

 

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