A ilha de Santiago tem dimensão humana e variedade natural, história e cultura para ser um destino turístico de referência, no panorama do turismo nacional e internacional.
Nesta perspetiva, a história e a cultura são as duas características que poderão determinar o carácter perene da oferta turística da ilha. Ou seja, uma oferta com procura não sujeita, de forma catastrófica, às flutuações do modismo dos destinos turísticos.
A ilha de Santiago está a dar os primeiros passos na construção da sua oferta turística, o que é pena, sem dúvida, mas que pode ser transformado numa vantagem, se os diversos intervenientes no processo, humildemente, se prestarem a pensar coletivamente estratégias e táticas de intervenção.
Sem dúvida que este evento em Santa Cruz, terra de banana, funaná e boa gente, como gosta de dizer o meu querido amigo Carlos Silva (Sueque), ilustre Presidente da Câmara Municipal, este evento, é um bom exemplo deste tão necessário espírito de entendimento coletivo.
A ilha de Santiago recebeu, imediatamente antes da pandemia, cerca de 10 por cento dos turistas do país, ou seja, 80 mil turistas. A oferta a estes turistas é ainda muito ténue e o dinheiro que cada turista deixa na ilha é rarefeito, não porque não queiram comprar, mas porque a oferta é escassa.
Por outro lado, os pontos de visita pelos turistas de fruição «obrigatória» não estão ainda trabalhados. A título de exemplo, em 2018, apenas cerca de 5.000 turistas fizeram o percurso da Serra da Malagueta, descendo a pé até à magnífica Ribeira de Principal, no Município de São Miguel. Com um consumo de produtos e serviços irrisório.
Aproveito a ocasião para dar os parabéns às nossas agências que tão bem e diligentemente têm trabalhado este magnífico produto que é a Serra da Malagueta.
Colocada a questão do estádio em que se encontra o turismo na ilha de Santiago, com estes dois exemplos, regressemos à problemática da Cultura.
Que estratégias seguir, para que a cultura ocupe o lugar de relevo que, por um lado merece, e que, por outro, garante a referida perenidade do sucesso da nossa oferta, numa economia global extraordinariamente competitiva.
UMA PLATAFORMA INTERNACIONAL DE CULTURA
Em jeito de tese: a afirmação do nosso Turismo, com o máximo de força internacional no panorama da oferta turística mundial, poderá acontecer através da construção de uma plataforma internacional de cultura em Cabo Verde.
Isto é, através da criação das condições e atração de outras formas de manifestação da cultura para, ao lado da oferta cabo-verdiana de cultura, deliciar os turistas que procuram Cabo Verde.
Parece contraditório, mas se olharmos para as grandes referências internacionais de destinos culturais, estes destinos são centros de oferta internacional de cultura, em que a cultura local ocupa, necessária e por direito próprio, um lugar de destaque.
Este facto, aliás, apenas confirma a natureza da cultura, enquanto visão possível e multiforme do ser humano, do material e imaterial que o cerca.
Esta particular plataforma de cultura em Cabo Verde será, sem dúvida, um grande veículo de comunicação global da nossa cultura e de consolidação do que os homens e mulheres de cultura cabo-verdianos construíram ao longo dos anos.
Penso que este objetivo está ao nosso alcance, mas supõe um paradigma profundamente diferente, no que respeita à atitude, conceção, construção, relação e organização da Cultura e da sua relação com outros sectores da nossa vida coletiva, nomeadamente com o Turismo.
Dar-nos-á uma visibilidade que nunca tivemos, como país e cultura, e colocará a nossa oferta turística num patamar completamente diferente.
Supõe, necessariamente, uma fortíssima articulação entre os as instituições de cultura, públicas e privadas, as empresas de turismo e as suas associações representativas, com um destaque especial dos Agentes, Promotores e Produtores Culturais.
Está ao nosso alcance. Querendo mudar, individual e coletivamente.
Eugénio Inocêncio
Presidente da Associação de Turismo de Santiago
Pedra Badejo, 16 de novembro de 2021
Fórum Turismo Cultural na Ilha de Santiago
