Entenda como a Europa lançou 5G sem prejudicar aviação, como acontece nos EUA

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A Europa não corre o mesmo risco, segundo a indústria, porque há uma distância muito maior entre o espectro usado pelos altímetros de radar e o 5G

As principais companhias aéreas internacionais estão a cancelar voos para os Estados Unidos devido aos temores da indústria da aviação de que a tecnologia 5G possa interferir em instrumentos cruciais a bordo.

Mas os negócios continuam normais na Europa, onde a última geração de redes móveis de alta velocidade está a ser lançada sem problemas.

“Os dados técnicos recebidos dos fabricantes da UE não oferecem evidências conclusivas para preocupações de segurança imediatas neste momento”, disse a Agência de Segurança da Aviação da União Europeia (EASA) à CNN Business na quarta-feira dia 19 de Janeiro.

“Neste momento, a EASA não tem conhecimento de nenhum incidente em serviço causado por interferência 5G”, acrescentou o regulador, que supervisiona a aviação civil em 31 países europeus.

A história é a mesma no Reino Unido, onde a Autoridade de Aviação Civil emitiu um aviso de segurança na terça-feira (18) dizendo que “não houve casos confirmados em que a interferência 5G resultou em mau funcionamento do sistema da aeronave ou comportamento inesperado”.

A falta de alarme na Europa contrasta fortemente com os Estados Unidos, onde as companhias aéreas alertaram para consequências catastróficas para a aviação e a economia se o serviço móvel 5G super-rápido se expandir sem salvaguardas adicionais.

As companhias aéreas e os reguladores de aviação dos EUA alertaram que as antenas de celular 5G próximas aos aeroportos podem distorcer as leituras dos altímetros de radar, que informam aos pilotos a que distância estão do solo.

“Quaisquer falhas ou interrupções de [altímetros de radar] podem levar a incidentes com resultados catastróficos, potencialmente resultando em várias mortes”, disseram a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) e a Federação Internacional de Associações de Pilotos de Linha Aérea (IFALPA) em 2020.

Por que há um problema potencial nos Estados Unidos, mas não na Europa? Tudo se resume a detalhes técnicos.

As empresas de telefonia móvel nos Estados Unidos estão a lançar o serviço 5G num espectro de ondas de rádio com frequências entre 3,7 e 3,98 GHz. As empresas pagaram ao governo dos EUA US$ 81 bilhões em 2021 pelo direito de usar essas frequências, conhecidas como C-Band.

Mas na Europa, os serviços 5G usam a faixa de espectro mais lenta de 3,4 a 3,8 GHz. A indústria da aviação está preocupada que o serviço 5G dos EUA esteja muito próximo do espectro usado pelos altímetros de radar, que está entre 4,2 e 4,4 GHz.

A Europa não corre o mesmo risco, segundo a indústria, porque há uma distância muito maior entre o espectro usado pelos altímetros de radar e o 5G.

“Se não houver uma mitigação adequada, esse risco tem potencial para amplos impactos nas operações de aviação nos Estados Unidos, bem como em outras regiões onde a rede 5G está a ser implementada junto à faixa de frequência de 4,2 a 4,4 GHz”, IATA e IFALPA disse na sua declaração.

O que a França fez

Existem outras diferenças na forma como o 5G está a ser implementado, de acordo com a Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA).

Alguns países estão a usar níveis de energia mais baixos, restringindo a colocação de antenas 5G perto de aeródromos e exigindo que elas sejam inclinadas para baixo para limitar possíveis interferências com aeronaves.

Em França – citado por operadoras de telecomunicações como AT&T ( T ) e Verizon ( VZ ) como um exemplo de 5G e aviação trabalham perfeitamente juntos – a altura de uma antena 5G e a potência de seu sinal determinam quão perto ela é permitida de uma pista e a trajetória de voo de uma aeronave, conforme nota técnica da Agência Nacional de Frequências da França (ANFR).

As antenas em torno de 17 grandes aeroportos franceses também precisam ser afastadas das rotas de voo para minimizar o risco de interferência, disse à CNN o diretor de planeamento de espectro e assuntos internacionais da agência, Eric Fournier.

“No início, tomamos medidas bastante protetoras porque tínhamos poucas informações sobre a realidade do problema”, disse Fournier. A autoridade de aviação civil da França disse à CNN na quarta-feira que “nenhum evento de tecnologia 5G interferindo nos altímetros de aeronaves foi registado pelas operadoras francesas”.

A FAA está tão preocupada com a possível interferência com altímetros que emitiu uma ordem urgente em dezembro proibindo os pilotos de usar altímetros que possam ser afetados em aeroportos onde as condições de baixa visibilidade os exigiriam.

A regra poderia impedir que os aviões chegassem a alguns aeroportos em certas circunstâncias, porque os pilotos não conseguiriam pousar usando apenas instrumentos.

A EASA reconheceu as preocupações da FAA em dezembro, observando que elas “abordam situações específicas das operações no espaço aéreo dos EUA”.

O regulador europeu recomendou que as transportadoras “considerem expor as tripulações de voo a cenários de rádio altímetro não confiáveis” durante o treino e garantir que as tripulações estejam cientes da “potencial degradação no desempenho dos rádio altímetros instalados”.

Nos Estados Unidos, as diferenças de opinião sobre o risco representado pelo 5G se transformaram numa amarga disputa pública envolvendo reguladores federais, bem como empresas de aviação e telecomunicações.

Grandes companhias aéreas, incluindo British Airways, Lufthansa e Emirates cancelaram voos para os Estados Unidos, citando o problema.

“Não sabíamos que a potência das antenas nos Estados Unidos [foi] duplicada em comparação com o que está a acontecer em outros lugares. Não sabíamos que as próprias antenas foram colocadas numa posição vertical em vez de uma posição levemente inclinada”, O presidente da Emirates, Tim Clark, disse à CNN Business.

“Então, com base nisso, tomamos essa decisão de suspender todos os nossos serviços até que tivéssemos clareza”, acrescentou.

A AT&T, dona da empresa controladora da CNN, e a Verizon anunciaram no dia 18 que atrasariam a ativação do 5G em algumas torres ao redor de certos aeroportos. O lançamento da tecnologia sem fio perto dos principais aeroportos estava programado para o dia 19.

“Estamos frustrados com a incapacidade da FAA de fazer o que quase 40 países fizeram, que é implantar com segurança a tecnologia 5G sem interromper os serviços de aviação, e pedimos que faça isso em tempo hábil”, disse Megan Ketterer, porta-voz da AT&T.

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