200 anos da “Revolta dos Engenhos” comemorados com encontro de quadros e actividades culturais

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A comunidade dos Engenhos, Santa Catarina (Santiago), vai comemorar os 200 anos das primeiras revoltas contra o regime colonial em Cabo Verde, a “Revolta dos Engenhos” (1822), com várias actividades, que incluem um encontro de quadro e acções culturais.

Conforme informações da organização, o evento terá lugar esta sexta-feira, 09, e sábado,10, no Centro Histórico dos Engenhos, e decorrerá sob lema “relembrar a batalha dos nossos homens e recontextualizar o desenvolvimento a partir de um novo panorama social e económico”.

No primeiro dia, consta um fórum de quadros e de todas as forças vivas de Engenhos, que vai debater temas como: “a importância da casa de Morgado no centro dos Engenhos”, “potencialidades e desafios de reconversão económica dos Engenhos – o papel da educação na mobilidade social”, e “turismo rural/cultural como uma das potencialidades para o desenvolvimento local sustentado”.

No mesmo dia, segundo a mesma fonte, a Câmara Municipal de Santa Catarina vai apresentar o projecto de requalificação da “Casa de Serra”, um dos monumentos mais antigo da história de morgadio em Cabo Verde.

O projecto de conservação e requalificação para a criação de um Centro Interpretativo da Revolta dos Engenhos, anunciado no início de Dezembro de 2021 e decorrente de uma parceria entre o Instituto do Património Cultural (IPC) e autarquia santa-catarinense.

O projecto, que já foi ‘socializado’ com a população local, prevê a recuperação das casas existentes e a construção de novas residências para o alojamento de turistas e novos acessos e espaços exteriores.

A mesma fonte acrescentou que a intervenção prevê ainda zonas verdes, construção de uma placa desportiva, curral para animais, restaurantes, espaço de lazer e estacionamento.

O edifício de estilo colonial português foi construído em 1897, século XIX, e foi residência de um morgado que explorava a terras. Era neste mesmo local onde se efetuava o pagamento de rendas muito elevadas para as possibilidades dos rendeiros, o que esteve na origem da Revolta dos Engenhos.

“Por tal razão, o futuro Centro Interpretativo carrega uma grande responsabilidade em transmitir aos seus visitantes a importância que tem e o que representa enquanto património histórico, não só de Santa Catarina, mas, também, de Cabo Verde”, lê-se no comunicado da edilidade santa-catarinense.

Já no segundo e último dia, estão programadas actividades culturais, como a tabanca, o batuque, o teatro e a música, fenómenos culturais que foram símbolos utilizados nas manifestações e contam com o apoio da edilidade santa-catarinense.

O vale da Ribeira dos Engenhos, uma área genuinamente agrícola, desempenhou um grande papel no panorama económico da ilha de Santiago, sendo um dos principais abastecedores dos antigos mercados e dos centros urbanos, nomeadamente de Assomada (Santa Catarina), São Lourenço dos Órgãos e Praia.

A sua história ganha um contexto nacional, quando em 1822 a população levantou-se contra a exploração agrícola, fundiária e o abuso do poder perpetuados pelos morgados (considerados donos das terras).

Tal rebelião é hoje conhecida como “Revolta dos Engenhos”, onde os homens, sem terra, sem sustento e com altos encargos de imposto sobre a produção agrícola, revindicaram o direito à vida condigna, depois da abolição da escravatura.

A Revolta dos Engenhos é considerada um dos primeiros sinais de consciencialização dos nativos, contra o regime colonial e o primeiro passo na luta pela libertação nacional.

Ao longo da sua história, o concelho de Santa Catarina foi marcado ainda pelas revoltas de Fonte Ana, 1835, de Ribeirão Manuel, 1910, e várias petições dirigidas ao Ministério do Ultramar por cidadãos de Santa Catarina nos anos de1946, 1962 e 1970, para além da adesão de jovens e estudantes pela causa da independência de 1975 e pela democracia em 1991, que culminou com as primeiras eleições.

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