NOVA YORK – O anúncio de um acordo entre a Airbus e a Bombardier para a fabricação de aeronaves de porte médio provocou uma reação nas ações das principais companhias de aviação do mundo. Os papéis das duas companhias disparam nesta terça-feira, enquanto os da Boeing e da Embraer — concorrentes neste nicho de mercado — recuam.
As ações da canadiana Bombardier chegaram a subir 25%, a maior alta em 18 meses, após a empresa ceder o controle maioritário do seu programa de jatos da série C para Airbus, e avançavam 17,8% à tarde na Bolsa de Toronto. Já as ações da europeia têm valorização de quase 5% (4,83%).
As ações da Embraer chegaram a cair 6,9% nesta terça-feira, para 0,26795€, sua maior queda intradiária desde 16 de julho. Os bancos Deutsche Bank e Scotia Capital rebaixaram suas recomendações sobre os papéis da companhia brasileira, manifestando preocupação com relação ao acordo entre a Airbus e a Bombardier.
O acordo aumenta as chances de que a aeronave da Bombardier chegue a mercados de todo o mundo com a ajuda da estrutura de vendas e de marketing da Airbus. A canadense, que não fecha uma venda grande desde Abril de 2016, sofreu um impacto ainda mais forte recentemente com a decisão do Departamento de Comércio dos Estados Unidos de impor uma tarifa de importação de 300% para suas aeronaves após denúncia da Boeing.
“O valor (do acordo) é muito maior. Para a Bombardier, o acordo reduz o risco e aumenta as oportunidades dessa linha de aeronaves de alcançar o sucesso comercial, o que seria quase impossível de outra forma”, afirma Fadi Chamoun, analista da BMO Capital Markets.
A Boeing acusou a Bombardier de vender pelo menos 75 de suas aeronaves para a Delta por “preços absurdamente baixos”, o que provocou a reação de Donald Trump de aumentar as tarifas de importação. Com o acordo com a Airbus, que tem uma fábrica no estado de Alabama, nos Estados Unidos, a empresa vai se livrar desse imposto.
Nos Estados Unidos, as ações da Boeing tem perda de 0,54% enquanto os papéis da Embraer no Brasil recuam 4,47%. O temor de analistas é que a fabricante brasileira de jatos perca possíveis contratos com a união de Bombardier e Airbus.
Segundo o analista do BTG Pactual Renato Mimica, em relatório publicado hoje, o negócio fortalece significativamente o programa Série C, que é o principal concorrente da Embraer no mercado de aviões para 100-150 passageiros.
“Não esperamos uma mudança dramática no mercado de aviação comercial em função desse acordo, mas acreditamos que ele deve acrescentar um obstáculo ao setor”, afirmou o Deutsche Bank, que rebaixou a ação da Embraer para manutenção.
O BTG Pactual, porém, vê “um lado bom” para a Embraer na decisão da Airbus: o negócio mostra um nome forte apostando no mercado de aviões de 100-150 lugares, disse o analista. Além disso, aumentaria a importância estratégica da Embraer para a Boeing, que não possui um portefólio de jatos regionais.