O secretário-geral da Nações Unidas, António Guterres, assegurou ontem, no Mindelo, que é preciso “justiça” para que países como Cabo Verde que nada fizeram pelas mudanças climáticas parem de pagar por elas.
O responsável da Organização das Nações Unidas (ONU) teceu as considerações na sequência de um encontro com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, seguido de uma conferência de imprensa, e que se enquadra na programação da regata Ocean Race.
“Precisamos de justiça para que aqueles como Cabo Verde que nada fizeram pelas mudanças climáticas param de pagar por elas”, exortou a mesma fonte, para quem o País tem demonstrado um “interesse climático em palavras e acções”, descritos, por exemplo, na intenção em atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e investimento na economia azul.
António Guterres, que também teve tempo para agradecer pela “forma calorosa” como é sempre recebido no arquipélago desde que era primeiro-ministro de Portugal, disse aguardar com expectativa a possibilidade de trabalhar com o Governo e povo cabo-verdiano para “trazer essa ambição à realidade”.
“Estou mais determinado do que nunca em tentar fazer de 2023 um ponto de viragem para as pessoas e para os países”, assegurou, indicando como pretensão promover a paz e a segurança, os ODS, a estabilidade e combater a crise climática.
Por “tudo isso e muito mais”, António Guterres disse estar “profundamente agradecido” por ter Cabo Verde como um “parceiro fundamental”, que “ajuda a construir um caminho para um mundo mais justo e mais sustentável”.
Instado se ainda não há uma consciência dos países mais ricos para financiarem países mais pobres afectados pelas mudanças climáticas, o secretário-geral afiançou haver uma consciência, mas que “ainda não há uma acção suficientemente eficaz”.
A mesma fonte apontou como exemplo o não desbloqueio dos seis mil milhões de dólares anuais dos países mais desenvolvidos, que deveria ter começado em 2020, mas até agora não aconteceu, os estudos de adaptação, o Fundo Verde, que “tem funcionado com uma grande ineficácia”.
“Há todo um conjunto de reformas essenciais a fazer e o mundo tem sido lento em o reconhecer e mais lento ainda em o executar”, advogou a mesma fonte.
Questionado ainda pela imprensa, António Guterres considerou que a intenção de Cabo Verde de querer erradicar a pobreza extrema até 2026 corresponde a uma visão estratégica que é “inteiramente coincidente” com a visão das Nações Unidas.
Isto quando, sublinhou, neste momento está-se a assistir a um aumento das despesas militares visto como “mais um factor que está a limitar o financiamento dos países desenvolvidos e que precisa acabar em breve”.
O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, por seu lado, agradeceu o comprometimento do secretário-geral da ONU para com os estados insulares como Cabo Verde, que têm tentado aumentar a sua capacidade de resiliência em relação às mudanças climáticas.
O chefe do Governo aproveitou a ocasião para lembrar os “momentos difíceis” vividos pelo País devido às crises despoletadas pela seca nacional, pandemia da covid-19 e guerra na Ucrânia.
Mesmo assim, conforme a mesma fonte, o País tem dado “boas respostas” e, daí, ter conseguido fazer a economia crescer em 2022 “entre 8 a 12%”.
“Significa que antecipamos e muito aquilo que seria a recuperação em 2020”, considerou Ulisses Correia e Silva.
O primeiro-ministro e o secretário-geral da ONU, após o encontro, efectuaram uma visita ao Ocean Live Park, e de seguida António Guterres seria o convidado da `Prime Minister Speaker Series´.
Hoje dia 22 António Guterres segue para Santo Antão para uma agenda de trabalho na ilha e na segunda-feira, 23, estará de novo Mindelo como um dos convidados da Cimeira dos Oceanos do Mindelo, enquadrada na recepção da regata Ocean Race.