Cabo Verde & a Música – Museu Virtual

Entrevista com Gláucia Nogueira

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“Gláucia Nogueira, jornalista e antropóloga, trabalha sobre temas ligados à cultura cabo-verdiana desde o início da década de 1990, quando começou a colaborar com a imprensa de Cabo Verde, fazendo a cobertura jornalística de atividades ligadas à comunidade cabo-verdiana radicada na região de Lisboa.

Em 1994, vivendo alguns meses na cidade da Praia, germinou a ideia de fazer investigação sobre a música cabo-verdiana. Em 1997, iniciou uma longa pesquisa bibliográfica e discográfica, complementada por centenas de entrevistas, aprofundando os conhecimentos sobre os géneros musicais, os seus períodos, discografia e outros aspetos. Ao longo de cerca de 20 anos, reuniu dados sobre compositores, intérpretes, grupos, produtores, etc. As suas biografias constam de Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens, que publicou em 2016. Dessa trajetória resulta o projeto atual – Cabo Verde & a Música – Museu Virtual.

Residindo de 2002 a 2014 na cidade da Praia, trabalhou em vários órgãos de comunicação – Paralelo 14, A Semana, Fragata, Iniciativa e Cabo Verde, e como correspondente da revista angolana África 21 – além de lecionar na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e na Universidade de Santiago (US).

Gláucia Nogueira é mestre em Património e Desenvolvimento pela Uni-CV (com dissertação sobre o tema do batuku) e doutora em Patrimónios de Influência Portuguesa pela Universidade de Coimbra (com tese sobre as músicas de origem europeia do século XIX em Cabo Verde).

Além de Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens, publicou:

  • O Tempo de B.Leza. Documentos e memórias (2006), sobre a vida e obra do célebre compositor Francisco Xavier da Cruz;
  • Notícias que fazem a História. A música de Cabo Verde pela imprensa ao longo do século XX (2007), conjunto de textos baseados no que os arquivos guardam sobre a cultura e a música do país;
  • Batuku de Cabo Verde. Percurso histórico-musical (2015), resultado do mestrado em Património e Desenvolvimento, na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), sobre o género musical batuku enquanto elemento do património imaterial do país.

Cabo Verde & a Música – Museu Virtual é um espaço online que propõe um mergulho no universo musical de Cabo Verde

Fonte: www.ppl.pt/caboverde – plataforma onde decorre a campanha de crowdfunding, objetivando a angariação de fundos para o pleno funcionamento do museu virtual, que já está online em www.caboverdeamusica.online.

Entrevista:

De acordo com a sua biografia, percebe-se que estamos perante uma investigadora que dedicou mais de metade da sua vida a estudar, investigar e conectar toda uma riqueza patrimonial da música cabo-verdiana através da produção literária e científica.

Com os avanços das Tecnologias de Informação e Comunicação, surgem novas oportunidades e experiências em torno de uma maior difusão do conhecimento. Vemos assim, o Cabo Verde & a Música – Museu Virtual como uma inovação em vários domínios, que veio enriquecer o núcleo nacional de informações, conhecimentos e dados em torno da música cabo-verdiana, que sem dúvida caracteriza-se como o maior bem cultural das ilhas e da diáspora de Cabo Verde.

(i) Neste sentido, quais as inovações que o Museu Virtual da Música de Cabo Verde traz para os contextos cultural e científico?

R: Justamente por ser um projeto multimédia, vai além de texto e foto, que é o que um livro apresenta. Assim, reúnem num só espaço textos, fotos, vídeos, áudios, entrevistas, recortes de jornais, cartazes, informações, enfim todo um conjunto de materiais que contam as histórias e guardam as memórias das práticas musicais dos cabo-verdianos ao longo do tempo. E com a vantagem de poder atingir pessoas em todo o mundo, num mesmo instante, já que está disponível na internet. Desta forma, penso que será uma ferramenta importante do ponto de vista educativo, para estudantes e investigadores, e também para os artistas e produtores divulgarem os seus trabalhos no mundo. Para os que estão na diáspora, será um espaço de encontro com a sua identidade cultural, o que como sabemos é tão importante  para os que estão longe e para as gerações de descendentes de cabo-verdianos. A aposta é oferecer uma informação rigorosa, e ser o arquivo que é todo museu. Ao mesmo tempo, pretende ser um espaço de entretenimento, de ouvir música e onde encontrar os nossos artistas preferidos.

(ii) A ideia central do Museu Virtual é “Preservar a memória para poder contar a História”, o que reflete claramente a linha de atuação deste espaço online que para além de proporcionar um “mergulho no universo musical de Cabo Verde”, contribui para a preservação do nosso património musical. Na sua ótica, qual o impacto do Museu Virtual na difusão dos valores em torno da música tradicional de Cabo Verde, numa era onde somos invadidos por novas propostas musicais com uma perspetiva mais comercial?

R: O museu virtual, tal como o dicionário de personagens, que é o trabalho que está na sua origem, abrange tanto a música dita tradicional como a música pop, comercial. Não poderia omitir uma e só favorecer a outra, já que ambas existem, fazem parte de Cabo Verde, desde que são produzidas pelos cabo-verdianos. Mas há personagens que acabam por não ser bem conhecidos, ou nada conhecidos, se se tem em mente só o que é um êxito no momento, o que tem estratégias de marketing e divulgação, através de videoclipes e outros recursos. Se pensarmos por exemplo nas cantadeiras de finason, nos construtores de cimboa, nos tocadores de rabeca que nunca gravaram um disco, nos tamboreiros e coladeiras das festas populares ou nos compositores do passado que não têm quem os divulgue, então uma iniciativa como esta, que tem um interesse cultural e não de marketing, será um espaço para dar visibilidade a essas figuras. Mas não deixará de falar das outras personagens, ligadas à música atual. Todos cabem dentro de Cabo Verde & a Música, porque todos são Cabo Verde.

(iii) Decorre até final de abril, uma campanha de crowdfunding para angariação de fundos objetivando o pleno funcionamento do museu virtual, que já está online e acessível, contudo ainda de forma parcial. Qual a mensagem que deixa aos nossos leitores, no sentido de poderem contribuir e fazer parte deste projeto?

Faço um apelo a todos os que amam a cultura cabo-verdiana e aos que se interessam pela música de Cabo Verde, para que apoiem, na medida das duas possibilidades. Pode ser apoiando a campanha com qualquer valor a partir de 1 euro, por este site:  https://ppl.pt/caboverde; ou por transferência bancária nesta conta em Cabo Verde (NIB 000200001096196910103). Além disso, divulgar a campanha também já é uma grande ajuda e fico muito grata. E, de modo geral, convido a todos os leitores a conhecer o site, navegar nas suas páginas em busca dos seus artistas preferidos, conhecer as histórias, pois pouco a pouco vão surgindo novos itens, novos textos, e secções. O endereço é este: www.caboverdeamusica.online. E podem dar a sua opinião na página Facebook: https://www.facebook.com/caboverdeamusica, o que considero muito importante ter o feedback dos utilizadores do site.

Obrigada, a Turimagazine por esta oportunidade de divulgar esta iniciativa.

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