Cabo Verde, país numa encruzilhada

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empresário cabo-verdiano

Quando se pergunta hoje a qualquer empresário cabo-verdiano qual a medida que considera indispensável ao bom funcionamento da economia do país, a resposta é inevitavelmente a mesma: o acesso ao mercado internacional de capitais. Isto significa que há uma perceção generalizada de que o sistema bancário nacional não está a cumprir o seu papel e que os montantes necessários ao financiamento das oportunidades só poderão ser alcançados com o recurso direto pela iniciativa privada aos capitais externos.

Até à crise de 2008, Cabo Verde iludiu a ausência do acesso ao mercado internacional de capitais através dos bancos portugueses com participação na banca cabo-verdiana. Com a crise do sistema bancário português essa via indireta de acesso passou a estar bloqueada. O anúncio feito esta semana pelo primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva, de criação de um Fundo Soberano de Garantia, nomeadamente de apoio ao financiamento internacional das iniciativas privadas endógenas, poderá significar o início de uma nova fase da economia de Cabo Verde, quiçá o arranque do processo de desenvolvimento do país.

Este fundo soberano deverá começar com €100 milhões podendo vir a atingir €500 milhões. O Governo português é um dos apoiantes desta iniciativa do Governo cabo-verdiano. No entanto, este impulso para a transformação da economia cabo-verdiana enfrenta diversos desafios, simultâneos e extremamente exigentes entre os quais a unificação do mercado interno, a diversificação da economia, a inserção dinâmica no mercado global, nomeadamente no mercado da CEDEAO, a que Cabo Verde pertence, etc.

A economia cabo-verdiana padece de um dos males de todas as economias dos países em desenvolvimento: é uma economia a várias velocidades. E o turismo, o único sector dinâmico da economia, é o exemplo paradigmático. A incapacidade de as autoridades criarem os mecanismos que permitam a circulação dos impulsos positivos do turismo para os outros sectores de atividade bloqueou a diversificação da economia do país.

Urge assim ultrapassar esse constrangimento através de reformas que terão de acontecer em simultâneo para garantir a eficácia sistémica do processo de desenvolvimento do país (sistema financeiro, fiscal, dos transportes, ensino, saúde e habitação). Deste modo, contribuir-se-á para potenciar a afirmação de um sector privado nacional, nomeadamente no sector financeiro, no turismo (a quase totalidade da hotelaria é de capital externo), na pesca industrial ou no abastecimento dos hotéis.

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