Crescimento nos países lusófonos limitados pela elevada dívida pública

A analista de assuntos económicos com o pelouro de África

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nas Nações Unidas, Helena Afonso, considerou ontem que nos maiores países lusófonos a elevada dívida pública é um dos constrangimentos a um maior crescimento económico.

Em declarações à Lusa no seguimento da divulgação, na segunda-feira, do mais importante relatório económico anual das Nações Unidas, Helena Afonso sustentou que no caso do Brasil, a maior economia lusófona, “permanecem desequilíbrios macroeconómicos significativos, particularmente relacionados ao alto nível da dívida pública” e com a incerteza política.

Em Angola, a maior economia lusófona em África, a dívida pública ronda os 65% este ano, tendo subido cerca de 20 pontos percentuais nos últimos anos, fruto da descida do preço do petróleo e do recurso ao endividamento para compensar a consequente quebra de receitas.

“Além da dependência da produção de petróleo, existem outros entraves a um maior crescimento, tais como baixa liquidez cambial, défice e inflação elevadas”, vincou a analista portuguesa a trabalhar em Nova Iorque.

Em Moçambique, a dívida pública é um dos mais significativos entraves ao crescimento económico, já que o país está em incumprimento financeiro e num impasse com o Fundo Monetário Internacional (FMI) relativamente à divulgação total de uma auditoria feita a empréstimos de empresas públicas contraídos de forma secreta.

“O peso da dívida pesará na confiança dos investidores e o défice e inflação elevadas limitarão um crescimento maior do PIB”, vaticinou Helena Afonso.

“O progresso nas negociações de paz e estabilização contribuíram para o crescimento em 2017, mas no futuro o crescimento manter-se-á limitado porquanto as negociações não sejam concluídas com sucesso”, acrescentou, notando ainda que “o crescimento futuro mantém-se dependente também do preço das matérias-primas, em particular do preço do carvão e do preço do gás.

Numa breve análise aos restantes países do universo da lusofonia, a analista com o pelouro africano nas Nações Unidas disse que “em São Tomé e Príncipe, o PIB deverá seguir numa média pouco acima de 5% em 2018-2019, baseado em investimento público em infra-estruturas e nos sectores do turismo, construção e agricultura”.

Em Cabo Verde a expansão económica de 4% será “apoiada pelo turismo e pelos envios de remessas de emigrantes, que beneficiam ambos de condições globais mais benignas”.

A Guiné Equatorial, o mais recente membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), “deverá continuar em recessão no período 2018-2019 à medida que se ajusta ao menor preço do petróleo desde 2014 e a um nível mais baixo de produção de petróleo”, pelo que precisa de “aumentar as receitas de sectores que não o dos hidrocarbonetos e reduzir o défice fiscal para manter a estabilidade macroeconómica”.

Sobre a Guiné-Bissau, Helena Afonso notou que o crescimento deverá manter-se em torno dos 5% devido ao “preço elevado da castanha de caju; no entanto, a incerteza a nível político e um ambiente de investimento difícil irão conter um crescimento maior”.

O relatório das Nações Unidas sobre a Situação Mundial e Perspectivas Económicas (WESP) defende que o crescimento global de 3%, o maior desde 2011, deve fazer os decisores políticos apostarem em temas de longo prazo.

“A perspectiva de evolução para África permanece sujeita a vários riscos” internos e externos, refere o documento sobre o continente africano.

A descida dos ‘ratings’, das exportações ou uma inversão do crescimento dos preços das matérias-primas são alguns dos factores que podem fazer diminuir o Investimento Directo Estrangeiro e as remessas dos emigrantes, o que pode ameaçar o fôlego da retoma, notam os analistas das Nações Unidas.

Internamente, concluem, os maiores riscos para os países africanos, que deverão crescer 3,5% e 3,7% nos próximos dois anos, estão na ausência de políticas de ajustamento aos preços mais baixos das matérias-primas.

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