O Presidente da República reiterou o seu apelo à comunidade internacional para um tratamento diferenciado a Cabo Verde em matéria de acesso ao financiamento e alívio da dívida externa.
José Maria Neves, que discursava na cerimónia de recepção dos cumprimentos de ano novo do corpo diplomático acreditado em Cabo Verde, sublinhou que enquanto pequeno Estado insular em desenvolvimento Cabo Verde encontra-se entre os países “mais fortemente” atingidos pela crise pandémica.
“Em consequência, e não obstante alguns sinais positivos, o País enfrenta, todavia, uma grave crise económica, financeira e social, sem precedentes”, disse, salientando que os “tímidos sinais positivos” registados ultimamente estão agora postos em causa com a onda “acelerada e devastadora” da variante ómicron.
O chefe de Estado cabo-verdianos salientou que a retoma económica acontece em ritmo “muito lento”, com o País a debater-se com uma “grande falta” de recursos financeiros e a enfrentar uma recessão económica “bastante acentuada”, com “a maior queda do PIB de sempre”, estimado neste momento em cerca de 15%.
José Maria Neves lembrou ainda que durante esses dois anos de pandemia, não sendo possuidor de recursos domésticos suficientes para uma resposta mais vigorosa à covid-19, Cabo Verde tem feito recurso obrigatório ao endividamento interno e externo para poder fazer face aos “continuados e persistentes” esforços de protecção das populações vulneráveis, e que, em consequência, a dívida pública tem aumentado.
“É, de resto, nesse âmbito que Cabo Verde vem advogando pela legitimação internacional e urgência de um tratamento diferenciado em matéria de acesso ao financiamento em condições concessionais, de facilitação do comércio e de alívio da dívida externa”, sustentou.
O chefe de Estado voltou a defender a adopção de um Índice de Vulnerabilidade Multidimensional como critério de acesso ao financiamento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e que atenda às especificidades das pequenas economias insulares, mais vulneráveis às mudanças climáticas e catástrofes naturais.
Em nome dos chefes de missão diplomática e organizações internacionais acreditados em Cabo Verde, o embaixador da França, Olivier Serot-Almeras Latour, enquanto decano do corpo diplomático, disse que a comunidade internacional está e vai continuar no lado de cabo Verde ajudando o país no caminho da renovação e da retoma.
“Nos continuaremos a acompanhar as autoridades cabo-verdianas na construção de um país que ocupa seu devido lugar em termos de desenvolvimento sustentável, nas áreas da economia azul, do crescimento verde e energias renováveis e facilidade de transportes, referiu. Entendemos que aqui estão as vias de desenvolvimento arquipelágico a longo prazo”, referiu a mesma fonte.
“Todos os países e organizações internacionais presentes em Cabo Verde estão engajados em apoiar e ajudar Cabo Verde no caminho da renovação e da retoma. Quero sublinhar particularmente a força da parceria especial entre a União Europeia e Cabo Verde e o envolvimento redobrado das equipas das Nações Unidas e do Banco Mundial”, disse o diplomata francês, que realçou a “coragem e exemplaridade” de Cabo Verde em matéria de vacinação contra covid-19.
O momento foi também aproveitado para o Chefe de Estado cabo-verdiano endereçar os mais vivos agradecimentos a todos os parceiros que, bilateralmente ou no âmbito da aliança global da Gavi-Covax, apoiaram Cabo Verde no domínio sanitário, permitindo que o país conseguisse umas maiores taxas de vacinação no continente africano e no mundo – 70% da população elegível já está inoculada.