O Projeto SOSTURMAC contribui para o necessário reposicionamento das Ilhas Canárias e de Cabo Verde como destinos turísticos inovadores e sustentáveis, integrando o visitante e a população local na conservação e divulgação do património.
As Ilhas Canárias e Cabo Verde são dois territórios insulares pertencentes à região Macaronésica que partilham características geográficas e naturais. Ambos os arquipélagos, de origem vulcânica, possuem um valioso património natural, cultural e arquitetónico e inúmeras atrações turísticas.
Estas regiões estão bem posicionadas em termos de turismo de sol e praia, mas como são territórios isolados, devem procurar fórmulas que tornem a atividade turística compatível com a valorização do seu património e a redução da sua dependência energética.
Projeto SOSTURMAC
Este projeto, co-financiado pelo programa europeu INTERREG MAC 2014 – 2020, apresenta uma abordagem inovadora ao ligar a conservação, promoção e desenvolvimento do património com o turismo cultural e científico, a eficiência energética e a utilização de energias renováveis, estabelecendo critérios e metodologias que vão desde a gestão do património até aos produtos turísticos finais.
Os parceiros do projeto são entidades de referência nas áreas temáticas específicas do projeto nas Ilhas Canárias e em Cabo Verde, e no seu ambiente imediato, o que tem sido fundamental para o sucesso da implementação das atividades planeadas. O “Instituto Tecnológico y de Energías Renovables” (ITER) lidera este projeto, transferindo sua experiência no desenvolvimento de tecnologias baixas em carbono, assim como na gestão turística de um alojamento zero CO2, as Casas Bioclimáticas ITER. Participam, igualmente, no projeto a Fundação “Centro Internacional para la Conservación del Patrimonio” (CICOP) e a “Agencia Insular de Energía de Tenerife” (AIET), como sócios canários; a Direção Nacional de Ambiente (DNA – Ministério de Agricultura e Ambiente de Cabo Verde), o Instituto do Património Cultural (IPC), o Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário (INIDA), a Universidade de Cabo Verde (UNICV), a Câmara Municipal de São Filipe – Fogo (CMSF) e o Parque Natural do Fogo (PNF), como sócios cabo-verdianos.
As ações realizadas favorecem uma atividade turística que contempla a eficiência energética e a utilização de energias renováveis como via para a competitividade económica e a redução da dependência energética. Sem esquecer a importância de unificar a revalorização do património com a sua conservação e a promoção do turismo cultural e sustentável.
INTERVENÇÕES PARA MELHORAR A SUSTENTABILIDADE ENERGÉTICA LIGADA AO PATRIMÓNIO DA ILHA DO FOGO
Pelas suas excelentes qualidades, a ilha do Fogo foi selecionada pelo projeto para a implementação de duas intervenções sustentáveis para melhorar a sustentabilidade energética ligada ao seu património, com o objetivo de acrescentar valor à oferta turística da ilha.
A primeira destas intervenções consistiu em melhorar a sustentabilidade energética da sede da Câmara Municipal de São Filipe, um edifício de interesse patrimonial nacional. A sua implementação demonstra a viabilidade deste tipo de ações e serve de exemplo para a sua possível replicabilidade em outros edifícios patrimoniais, consolidando o Município de São Filipe como um exemplo de sustentabilidade aplicada ao património histórico.
A ação tem-se baseado na melhoria da eficiência energética do envolvente do edifício, renovando a carpintaria e instalando venezianas; na instalação de um parque solar fotovoltaico de autoconsumo interligado à rede elétrica; e na otimização da utilização dos recursos energéticos, através da instalação de três estações meteorológicas inteligentes e compactas “MeteoINT”, desenhadas e fabricadas pelo Projeto SOSTURMAC.
As ações realizadas permitem aos utilizadores encontrar conforto térmico de uma forma natural, sem necessidade de consumir energia e reduzem o consumo final de energia elétrica da CMSF. Por seu lado, a instalação fotovoltaica representa uma poupança média anual de emissões de CO2 para a atmosfera de 6,640 kg/CO2.
Para a implementação desta intervenção, foram tidos em conta os princípios de intervenção no património, a fim de respeitar sempre o valor cultural do imóvel. Para este efeito, foi desenvolvido um “Guia de critérios de intervenção e conservação sustentável do património arquitetónico”, que se destina a servir de orientação para ações de melhoramento de edifícios patrimoniais no Centro Histórico de São Filipe ou outros centros históricos em Cabo Verde.
É de salientar que a intervenção foi realizada em coordenação com o recente projeto de requalificação da Praça Juan Paes, adjacente ao edifício sede da Câmara (Praça 4 de Setembro) no âmbito do eixo IV do Programa PRRA do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, coordenado através do IPC, que melhora substancialmente a atratividade do Centro Histórico do município.
Por outro lado, a segunda intervenção consistiu na melhoria da sustentabilidade energética, acessibilidade e condicionamento externo da sede administrativa do Parque Natural do Fogo (DNA – MAA), em Chã das Caldeiras. A intervenção criou um edifício mais sustentável e confortável, com um maior potencial para a divulgação dos seus valores naturais, bem como para a seu uso turístico e apoio à população local. A intervenção como um todo demonstra a viabilidade deste tipo de ações em edifícios ligados a áreas naturais protegidas, servindo de exemplo para uma possível replicabilidade e consolidação do Parque Natural do Fogo, uma das 7 Maravilhas de Cabo Verde, num exemplo de compromisso com a sustentabilidade numa área natural protegida.
A intervenção realizada na sede do PNF dotou a sede de uma instalação fotovoltaica, melhorou a eficiência energética do edifício e permite otimizar o seu consumo de recursos energéticos. Por outro lado, foram introduzidas melhorias na sua acessibilidade e as suas possibilidades de uso turístico e para a comunidade local foram aumentadas.
A instalação de um parque solar fotovoltaico isolado e totalmente autónomo no seu telhado torna-o um local 100% sustentável em termos energéticos, e garante o seu funcionamento 365 dias por ano, com uma poupança potencial em emissões atmosféricas anuais de 3,065 kg/CO2. Localizada num núcleo populacional sem abastecimento de eletricidade, esta instalação permite que o horário de funcionamento da sede seja alargado e consolida-se como um ponto focal dentro de Chã das Caldeiras, oferecendo novos serviços aos visitantes e à população local, tais como pontos de carregamento USB para pequenos aparelhos elétricos e um ponto de carregamento para bicicletas elétricas.
As melhorias introduzidas na envolvente do edifício e a otimização do consumo de energia, reduzem o sobreaquecimento no interior do edifício e melhoram o conforto térmico, reduzindo a necessidade de consumo adicional de energia.
A acessibilidade da sede foi também melhorada, o que permite o desenvolvimento de uma rota turística adaptada, e o espaço exterior da sede foi condicionado, criando uma área de descanso, o que aumenta as suas possibilidades de uso turístico e para a comunidade local. A praça dispõe de uma pérgula, duas bancadas, conectores elétricos USB para carregar pequenos equipamentos eletrónicos, um ponto de carregamento para bicicletas elétricas e mobiliário urbano para publicidade integrada. O pavimento da praça foi fabricado pelo Gabinete Técnico de Chã das Caldeiras e as paredes foram revestidas com pedras vulcânicas e acabadas com peças pré-fabricadas, de acordo com o código estético das obras públicas de Chã das Caldeiras, favorecendo assim a integração desta construção com o entorno.
Estas ações, juntamente com a recente designação da ilha como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, colocam a Ilha do Fogo no caminho das novas tendências no mercado turístico ligadas ao turismo cultural, científico e natural, e à consciência ambiental dos viajantes. O projeto produziu o vídeo “SOSTURMAC, apoiando a ilha do Fogo no seu caminho para a sustentabilidade”, disponível em quatro línguas, que inclui as ações levadas a cabo e visa contribuir para este reposicionamento do turismo.
CAMPANHA DE SENSIBILIZAÇÃO PÚBLICA EM CABO VERDE
A Campanha de Sensibilização “Promover a conservação dos valores patrimoniais nas Ilhas Canárias e Cabo Verde” é uma das principais atividades do Projeto SOSTURMAC, e visa contribuir para o conhecimento público sobre o valioso património natural e arquitetónico das Ilhas Canárias e Cabo Verde, promover a sua conservação, bem como encorajar ações para melhorar a sustentabilidade em termos de utilização e gestão destes elementos patrimoniais, e contribuir para a diversificação do turismo em ambas as regiões.
A implementação da campanha em Cabo Verde foi levada a cabo em coordenação entre a AIET, como responsável pela atividade, e o IPC, como parceiro especializado no património de Cabo Verde, tanto na sua identificação como na sua valorização e sensibilização.
Neste âmbito, foram realizadas 16 ações da Campanha, principalmente nas ilhas de Santiago e Fogo, beneficiando diretamente mais de 2.500 pessoas. A maioria destas ações foi implementada em colaboração com planos e programas existentes, executados pelo IPC em conjunto com outros atores chave. Destacam-se as ações realizadas em colaboração com as iniciativas do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, tais como o plano de preservação da Morna ou o programa Formar para Conhecer, bem como as ações realizadas em Cidade Velha em colaboração com a UNESCO, a Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago, o Projeto Cultura Cidade Velha e o Pacto de Autarcas da África Subsaariana em Cabo Verde, estas últimas relacionadas com a salvaguarda do Património Cultural Imaterial desta cidade Património Mundial da Humanidade.
Na ilha do Fogo, destacam a realização de um programa de palestras e projeções audiovisuais em escolas secundárias sobre “O património cultural de Cabo Verde e a sua importância no processo de desenvolvimento” e o “Processo de classificação da Morna como Património Cultural Imaterial da Humanidade”, bem como visitas com alunos ao Museu Municipal de São Filipe.
Na ilha de Santiago, destaca a realização da atividade “Formação em empreendedorismo cultural na Cidade Velha, Património Mundial”, celebrada em julho de 2019 com o objetivo de mostrar as oportunidades de negócio em volta dos recursos patrimoniais da Cidade Velha, promovendo o reforço e diversificação da oferta turística no sítio e promover o património cultural como fonte de conhecimento individual e coletivo. Também se trabalhou na edição de material de divulgação e promoção turística de Cidade Velha como Cidade Património da UNESCO, tendo sido editado o vídeo promocional “Cidade Velha”. Património Mundial. Aqui nasceu Cabo Verde”, o “Catálogo do Inventário do Património Cultural Imaterial – Concelho de Ribeira Grande de Santiago” e a “Carta de Circuito Centro Histórico de Ribeira Grande de Santiago – Cidade Velha, Património da Humanidade”. O Catálogo do Inventário do Património Cultural Imaterial foi apresentado num evento público, celebrado em janeiro de 2021, no Centro Cultural da Ribeira Grande de Santiago. Durante o projeto, foram também ministradas palestras a estudantes da UNICV.
OUTROS RESULTADOS DE INTERESSE PARA O CABO VERDE
No âmbito do projeto, foram obtidos outros resultados de interesse para a promoção do turismo sustentável e a revalorização do património natural e arquitetónico de Cabo Verde.
Destacam implementação da ferramenta telemática “Gestor de Património Cultural de Cabo Verde”; a elaboração de “Fichas de Interpretação energética de elementos patrimoniais chave das ilhas do Fogo, Santiago, Brava e Maio” e do “Guia Critérios de intervenção e conservação sustentável do património arquitetónico das ilhas Canárias e Cabo Verde”; o desenho de um “Alojamento turístico modular Zero CO2”, um novo produto turístico eco inovador para áreas de alto valor natural, acompanhado de um estudo das áreas naturais protegidas de Cabo Verde e possíveis localizações para esta infraestrutura, realizando uma proposta concreta para implementação no PNF e na ilha da Brava.
No âmbito do turismo, foi desenvolvida uma “Estratégia de posicionamento e promoção das Ilhas Canárias e Cabo Verde como destinos turísticos sustentáveis baixos em carbono” e um “Plano de Marketing Zero CO2”; e diferentes atividades complementares e materiais foram desenhados para a promoção turística dos produtos desenvolvidos, tais como o desenho de 5 rotas turísticas sustentáveis SOSTURMAC em Cabo Verde.
A qualidade do projeto e os seus resultados foram reconhecidos por numerosas entidades e iniciativas a nível internacional, tendo sido oficialmente incluído em eventos e iniciativas-chave (Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento 2017 – OMT; Ano Europeu do Património Cultural 2018 – CE; Semana Europeia da Energia Sustentável (2017 a 2020) – CE; etc. ) e selecionado como boa prática por várias entidades de referência em vários eventos e publicações externas (“European Renewable Energy Research Centres” – EUREC; Programa EU INTERACT – INTERREG; Pacto de Autarcas da Ilha de Tenerife; Tenerife Licita; Plataforma de I+D SKAN, etc.).