“Após o Covid -19 o comportamento da procura turística não será como antes. Regiões menos massificadas e menos consolidadas assumirão particular destaque”.
Com o aparecimento do novo coronavírus (covid-19) o cenário mundial alterou-se completamente e de uma forma muito repentina, afetando quase todos os setores da economia. Neste panorama o setor do turismo foi muito afetado, com grande número de viagens a serem canceladas e com a falência de companhias aéreas e outras empresas que estão diretamente ligadas a este setor.
Nos países onde a economia é completamente dependente do turismo, tal como é o caso de Cabo Verde, as consequências serão mais duras, e o regresso a normalidade só vai acontecer quando houver condições seguras. De acordo com a previsão do governo, a economia cabo-verdiana deverá sofrer uma contração em 2021, com a procura turística a descer 60% devido à pandemia do Covid-19. Este facto mostra-nos que há necessidade de continuar a diversificar esta e outras áreas de atividade, para que a nossa economia não dependa tanto do segmento de sol e praia, como tem sido nesta última década.
O governo tem vindo a trabalhar afincadamente na procura de parceiros internacionais, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, em busca de apoio para mitigar o efeito do coronavírus na economia cabo-verdiana e desta forma dar uma resposta mais célere as empresas.
Estamos confiantes que esta crise deverá ser temporal e, em breve, a nossa capacidade de recuperação será notória. Doravante, é importante manter uma postura de otimismo e tranquilidade para, todos juntos, continuarmos a trabalhar para superar este duro golpe na nossa economia.
Assim que esta pandemia for erradicada, é importante continuar a promover o turismo de Cabo Verde de modo a persuadir os turistas a visitarem o nosso arquipélago. Seguramente que os governantes já devem estar a preparar o relançamento do turismo após esta crise com soluções inovadoras e criativas capazes de atender às expetativas dos novos consumidores. A nível internacional, Cabo Verde é conhecido como um destino de sol e mar, onde as ilhas do Sal e da Boavista assumem um particular destaque. Tendo em conta a necessidade de divulgar outras ilhas alertamos para a necessidade de projetar e colocar Santo Antão no mapa do turismo do arquipélago. Conhecida sobretudo pela sua diversidade paisagística e recursos naturais, esta ilha tem vindo a assistir a uma procura turística crescente, ano após ano, e já é referido por muitos autores como um exemplo no que concerne ao turismo em espaço rural e de natureza.
Ainda não sabemos ao certo qual será o comportamento da procura turística após o covid-19, mas certamente não será o mesmo que era antes. O isolamento social, o medo de contágio e as incertezas no que concerne à saúde serão fatores que influenciarão, e muito, no momento da escolha do destino para renovados tempos de lazer.
Nesta perspetiva, a ilha de Santo Antão – por se tratar de uma região menos massificada e ainda pouco conhecida – poderá representar uma excelente oportunidade, em termos globais, para o setor do turismo de Cabo Verde.
Nesses novos tempos, e permanecendo alguns receios por parte dos turistas, os destinos menos massificados poderão assumir destaque, sobretudo quando oferecem atividades que podem ser realizadas ao ar livre e em contato direto com a natureza. Santo Antão, a par das suas caraterísticas singulares, dos vales profundos e das ribeiras verdejantes, confere um sentimento de tranquilidade e de liberdade constante a cada instante. A morabeza, o bem receber das nossas comunidades locais, a gastronomia, o artesanato, são fatores que certamente serão bastante valorizadas após esta pandemia. O consumo consciente, a procura de locais que valorizam a sustentabilidade e os produtos locais, será uma tendência dos próximos segmentos turísticos. Os turistas serão mais interessados nas tradições e na cultura dos locais que os acolhem e mais preocupados com as questões ambientais. De acordo com o estudo do perfil do turista que visita Santo Antão, eles são, na sua grande maioria, franceses, possuem um elevado nível de escolaridade e uma ocupação profissional estável. Têm como principais motivos das suas estadias na ilha estar em contato com a natureza, apreciar as suas bonitas paisagens, fazer caminhadas, conhecer a fauna, flora, cultura e tradições locais. Neste estudo avaliaram de uma forma muito satisfatória a sua estadia em Santo Antão, tendo classificado como “Muito Bom” aspetos como o clima, a beleza natural e paisagística e a hospitalidade dos residentes.
O mundo ainda vai levar algum tempo para reagir a esta pandemia e muitos especialistas já destacaram que, depois desta crise mundial, os turistas vão procurar sítios que foram menos afetados pelo vírus e com condições de estar em contato direto com a natureza.
Em Santo Antão temos condições para aproveitar essa rampa de oportunidade e dar uma maior visibilidade ao turismo sustentável que tem vindo a ser desenvolvido nesta ilha. Hoje, mais do que nunca, precisamos preparar ainda mais as comunidades locais para que valorizem todos os recursos que nos diferenciam das outras regiões, tendo em vista dar uma resposta eficaz às novas tendências do turismo que se irão verificar.
São estes momentos de incerteza que nos fazem pensar o quanto a nossa ilha poderá ser um destino de experiências onde a autenticidade e as diferenciações falam por si. Neste sentido, seria importante, em termos de viabilidade de muitas das iniciativas locais que estão em curso, poder continuar com o apoio do projeto Raízes – Redes Locais para o Turismo Sustentável e Inclusivo em Santo Antão (cofinanciado pela União Europeia e pelo Instituto Camões), que tem vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas para o fomento do turismo sustentável.
Os ganhos provenientes desta ação trouxeram uma nova dinâmica à ilha, no tempo presente referida como um exemplo a seguir por muitas regiões do nosso arquipélago. Em Santo Antão o projeto Raízes foi a iniciativa que estávamos a precisar para o turismo que queremos, pois afirmou-se como uma iniciativa que prima pela excelência e que se empenha, nas suas várias vertentes, para incutir a sustentabilidade nas suas ações.
Estamos a contar com o apoio das nossas autoridades locais e nacionais no sentido de continuar a receber esforços e bases para melhor fortalecer esta estratégia e posicionar Santo Antão como um destino de referência no que concerne ao Turismo de Natureza.
Na verdade, sabemos que, por enquanto, a prioridade é apenas uma: a saúde pública. Acreditamos vivamente que tudo vai ficar bem.
Eis que, diante de um novo desafio, desejamos que as autoridades responsáveis por este setor continuem a incentivar os nossos operadores para não baixarem os braços e continuarem a apostar no turismo de modo a estabelecer uma cooperação muito forte, que faça com que a nossa economia recupere e cresça.