Turismo de natureza deverá ser aposta com promoção de desportos especializados

Governantes, autarcas e operadores turísticos são unânimes

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em defender o turismo de natureza como indicado para o desenvolvimento do sector na ilha de Santo Antão, bem como a promoção de desportos adaptados ao ambiente local.

O primeiro-ministro considerou, durante a visita realizada em Junho de 2017, que a implementação de provas de atletismo em circuitos de montanha poderá ser uma alternativa muito importante para dinamizar as zonas altas da ilha de Santo Antão.

Ulisses Correia e Silva falava à população da zona de Corda, referindo-se à perda de oportunidades que a entrada em funcionamento da estrada Janela/Porto Novo trouxe para as localidades limítrofes à estrada Ribeira Grande/Porto Novo, via montanha.

É que anteriormente a produção agrícola podia ser escoada através da venda às pessoas que transitavam nessa estrada mas, com a entrada em funcionamento da estrada Janela/Porto Novo o tráfego reduziu-se drasticamente e as coisas ficaram mais difíceis para as populações locais.

“O ministro do Desporto esteve nas Canárias, precisamente, para ‘bebermos’ a experiência da organização de provas de circuitos de montanha, em atletismo” disse Ulisses Correia e Silva para enfatizar a ideia da aposta no turismo desportivo como alternativa para o desenvolvimento de Corda e das outras localidades do Planalto Leste.

No entender do chefe do Governo a realização desse tipo de provas, nas zonas altas de Santo Antão, ainda que seja apenas uma por ano, trará grande projecção internacional com a vinda de órgãos de comunicação social especializados além dos praticantes desses desportos e outros turistas.

“Esta zona tem potencialidade para o desenvolvimento de circuitos turísticos organizados e miradouros que permitirão mais movimentação nesta zona” disse o chefe do Governo.

Já em Fevereiro de 2017, o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Orlando Delgado, tinha defendido que o turismo de natureza, em Santo Antão, tem potencial para “enriquecer o destino Cabo Verde”.

“O turismo de natureza vai diversificar o produto ‘sol e praia’ e enriquecer o destino Cabo Verde” disse Orlando Delgado, criticando o actual plano estratégico do turismo nacional já que, em seu entender, “é um plano que podia ser aplicado aqui ou na Conchinchina porque não tem em conta as especificidades locais”.

Segundo Orlando Delgado, este é “um produto que, infelizmente, vem sendo esquecido há muitos anos mas que poderá trazer uma grande mais-valia para o turismo nacional”.

Com avanços e recuos continua o programa “Rota das Aldeias Rurais” cujos beneficiários têm-se manifestado descontentes e impacientes, ao longo do ano, com o atraso na implementação do projecto e consideram que os termos de referência adicionais são “manobras dilatórias”.

“Mais do que impaciência é uma grande dor ver Santo Antão a perder as suas oportunidades sem que se faça alguma coisa para as aproveitar” disse o operador José Manuel Pires Ferreira durante uma reunião realizada na Ribeira Grande, explicando que “há dois anos que continuamos neste marasmo, à espera que haja uma decisão superior para desbloquear as verbas da Rota das Aldeias Rurais”.

Em Agosto foi assinado um protocolo entre o Governo, representado pelo ministro dos Assuntos Parlamentares e da Presidência do Conselho de Ministros e Ministro do Desporto, Fernando Elísio Freire, e pelos presidentes das câmaras municipais dos três concelhos da ilha, com vista à disponibilização do financiamento, desde que os beneficiários cumpram os requisitos exigidos para acederem a esse financiamento disponibilizado pelo Governo.

A Inforpress foi informada de que muitos dos beneficiários não cumpriam, nessa altura, os requisitos exigidos pelo Governo, razão que vinha dificultando a disponibilização dos montantes previstos para o financiamento dos projectos inscritos nesse programa.

Rota das Aldeias Rurais de Santo Antão é um programa que pretende um “efectivo envolvimento” das comunidades locais na cadeia de valor do turismo, promovendo o empreendedorismo nas áreas rurais de Santo Antão, bem como a preservação e recuperação do património histórico-cultural no espaço rural.

Trata-se de privilegiar roteiros baseados na história e na cultura da ilha de Santo Antão, com a criação de vários “roteiros” históricos e culturais, nomeadamente, o roteiro do descobrimento da ilha, o roteiro da revolução no Paul, o roteiro das lendas e contos com destaque para a lenda das bruxas, o roteiro do grogue, o roteiro do café, roteiros do povoamento da ilha, o roteiro das festas populares, entre outros.

Trinta e seis operadores turísticos da ilha de Santo Antão foram seleccionados e vão receber os montantes necessários à implementação de cada projecto, à medida que forem cumprindo as exigências do protocolo de financiamento.

No início de Dezembro, o deputado Armindo Luz anunciou que os projectos ligados à “Rota das Aldeias Rurais de Santo Antão” vão começar a ser implementado com a disponibilização dos primeiros 30 por cento (%) do financiamento.

Segundo Armindo Luz, “todos os dossiês já estão completos e na posse do Fundo do Turismo” e que o primeiro desembolso seria efectuado até o final dessa semana para a conta da Associação de Municípios de Santo Antão (AMSA) e que o segundo desembolso de 30% poderá ser feito no final de Dezembro.

O projecto “Rota das Aldeias Rurais de Santo Antão” vai contemplar 36 beneficiários, distribuídos por toda a ilha de Santo Antão, sendo 12 por cada concelho, e a ideia é dar sustentabilidade ao “Destino Turístico Santo Antão”, como destino de natureza, a nível nacional e internacional.

“Rota das Aldeias Rurais”, turismo de Natureza, ou qualquer outro projecto turístico, poderão ser impulsionadores do turismo numa ilha que dispõe de uma paisagem ímpar e muito apreciada pelos turistas, mas que carece de infra-estruturas que potenciem o aproveitamento do potencial latente, sobretudo de um aeroporto internacional de médio porte.

O eurodeputado britânico Charles Tannock visitou a ilha de Santo Antão, em Setembro, e confessou-se “maravilhado com a beleza da paisagem da ilha de Santo Antão” e destacou “o grande valor turístico que deverá ser potenciado com a construção de um aeroporto”.

“Falei com os senhores presidentes de Câmara acerca dos projectos para a construção de um novo aeroporto porque com essa ligação esta ilha tem imenso potencial turístico” disse Charles Tannock que não se comprometeu com a disponibilização de financiamento da União Europeia (UE) para a construção desse aeroporto porque não faz parte dos órgãos executivos da UE.

“Acho que não é um projecto assim tão caro porque falei com um dos peritos que me disse que ronda à volta dos 25 milhões de Euros” disse Charles Tannock considerando que “é uma soma grande mas não muito elevada para a construção de um aeroporto”.

Embora não possa assumir o compromisso de prometer o financiamento do aeroporto, Charles Tannock mostrou-se aberto a “escrever uma carta à Comissão dizendo que se trata de um projecto de financiamento bem merecido”, caso a questão se colocar no futuro, porque seria um bom investimento para o desenvolvimento de Santo Antão e de Cabo Verde.

“Se a questão se colocar, nós daremos o nosso apoio político”, afiançou Charles Tannock destacando a cratera do vulcão de Cova, no Planalto Leste, que caracterizou de “turisticamente espantosa”.

“Já viajei pelos continentes todos mas nunca tinha visto uma coisa tão bonita”, disse Charles Tannock caracterizando essa paisagem como “algo espantoso e com grande valor turístico”.

Mas nem só de belas paisagens vive o turismo e a embaixadora da União Europeia, Sofia Moreira de Sousa, disse nessa ocasião, que os valores da paz, segurança e dignidade estão presentes em Santo Antão e que sentiu isso mesmo quando chegou à ilha.

“O povo de Santo Antão tem de estar muito orgulhoso porque a dignidade, o respeito, a segurança e a paz que se sente na ilha são valores muito importantes” disse a diplomata europeia reconhecendo, contudo que “a vida não é fácil, que existem muitos desafios nesta ilha” mas os valores da paz suplantam as dificuldades.

Falando das suas impressões em relação a Santo Antão, Sofia Moreira de Sousa confessou-se “maravilhada” pela natureza da ilha e, embora já tivesse ouvido falar da beleza das paisagens santantonenses, nunca pensou que fosse “tão bonita assim”.

“Esta ilha tem imenso potencial e deve ser divulgada para ser mais conhecida no exterior, para o seu aproveitamento a nível turístico” disse Sofia Moreira de Sousa destacando os contrastes da paisagem, desde a paisagem lunar às florestas nas montanhas e à exuberante vegetação nos vales.

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