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OPINĨO
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TURIMAGAZINE - MAŖO 2017 






Temos, de nitivamente, de ter a ńvel nacional um orga- dos exemplos mais conhecidos deste tipo de turismo s̃o 
nismo que estude e acumule conhecimento sobre o turis- as ilhas Cańrias, o Sul de Espanha e Maiorca, com um 

mo, caso contŕrio ño h́ follow-up de nada.
modelo baseado na massi cã̧o e explorã̧o do territ́rio 

at́ ̀ exaust̃o. Hoje, a maioria desses destinos est̃o arre- 
As Seychelles dependem do turismo, mas mant̂m o ŕcio pendidos da op̧̃o que tomaram e tentam a todo o custo 

turistas/habitantes em 3 turistas/habitante. Para isso, colo- requali car o seu turismo.
caram h́ uns anos uma morat́ria na constrũ̧o de gran- 

des hot́is! Tanto a ilha do Sal como a da Boa Vista, com De modo que repetir esses erros em pleno śculo XXI, 
muito menos populã̧o residente, j́ recebem quase tantos importando esse modelo para atender aos interesses dos 

turistas como esse pás irm̃o africano, o mais rico e desen- grandes operadores tuŕsticos que  caram sem os seus des- 

volvido do nosso continente. Mantendo uma baix́ssima tinos habituais, ́ no ḿnimo inquali ćvel...
densidade tuŕstica, dizendo ÑO ao turismo de massas e 

̀ modalidade hoteleira do all-inclusive desde que ascende- Defender que o turismo de sol e praia tem de estar atrelado 
ram ̀ independ̂ncia em 1976, as Seychelles conseguiram ̀ quantidade ś pode ser por duas raz̃es: por falta de co- 

atingir um ńvel de desenvolvimento de pás desenvolvido, nhecimento (o que ́ desculṕvel) ou por ḿ-f́ (o que ño 
sem desemprego e banindo a pobreza desde 1997.
́ desculṕvel). O que tamb́m j́ ño ́ aceit́vel ́ depois de 

duas d́cadas de desenvolvimento tuŕstico ainda estarmos 
Um pouco mais a sul, o tamb́m tuŕstico, crioulo e afri- 
com essa confus̃o de conceitos dentro de um EITU, onde 
cano arquiṕlago das Mauŕcias possui uma populã̧o de supostamente estavam presentes pessoas informadas sobre 
cerca de 1,3 milh̃es de pessoas e recebe anualmente um 
um sector que todos os governos dizem, tamb́m h́ duas 
pouco menos do que a sua populã̧o.
d́cadas, ser estrat́gico para Cabo Verde. O que ño seria 

se ño fosse estrat́gico...
Portanto, ño foi preciso sairmos do nosso continente para 

desmontar a a rmã̧o de que o turismo de sol e praia tem Continuaremos em pŕximas cŕnicas a dar o nosso con- 
de ser desenvolvido com massi cã̧o.
tributo para este necesśrio e urgente debate. Iremos viajar 
para outros arquiṕlagos crioulos e tuŕsticos, e continuar 
O quadro seguinte (dados de 2015) mostra-nos algo de que 
a analisar mais a rmã̧es que comȩam a enraizar-se por 
j́ faĺmos aqui anteriormente e que iremos abordar nas ć.

pŕximas cŕnicas: os páses que desenvolveram um turis- 
mo menos massi cado, com menor densidade, s̃o hoje os Desejo a toda a nã̧o verdiana e aos que vivem e convivem 

que criaram mais riqueza.
connosco um Feliz Natal, numa quadra que, normalmente,



Populã̧o
Turistas/ano
Turistas/habitantes
PIB per capita PPP ($US)

Seychelles
93.186
276.233
3,0
26.300

Mauŕcias
1.348.242
1.151.723
0,9
19.500

Cabo Verde
553.452
569.387
1,0
6.522

Sal
33.747
246.157
7,3
7.068

Boa Vista
14.451
181.771
12,6
8.819

Fonte: CIA WorldFactBook; INE; Banco Mundial


Pelo quadro tamb́m podemos veri car por onde j́ an- nos ilumina, e faz vir ao de cima o que de melhor os seres 
dam, em termos de massi cã̧o do turismo, as nossas humanos t̂m: a solidariedade com o pŕximo.

martirizadas ilhas do Sal e da Boa Vista.

Eu, da minha parte, dedico o meu pensamento aos milha- 
O turismo de massas ño ́ nenhuma fatalidade nem ne- res de cabo-verdianos que vivem nas barracas das ilhas do 

nhuma obrigatoriedade; ́ uma op̧̃o que páses e regĩes Sal e da Boa Vista, v́timas dos erros que esta nã̧o, de 
fazem, normalmente por falta de vis̃o estrat́gica e pla- forma incompreenśvel, teima em importar e repetir.

neamento, andando a reboque dos interesses corporati- 
vos dos grandes operadores tuŕsticos que apostam nesse Que 2017 seja o ano em que,  nalmente, se comece a adop- 

tipo de neǵcio. Floresceu muito nas d́cadas de 60/70 do tar poĺticas que coloquem o interesse de Cabo Verde e dos 

śculo passado, quando as preocupã̧es ambientais e de cabo-verdianos em primeiro plano.
desenvolvimento sustentado ainda nem existiam. Alguns






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